Temer não demite Moraes porque o ministro ainda engana a seu favor. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 27 de setembro de 2016 às 10:56
Moraes com Moro e a Lava Jato em junho
Moraes com Moro e a Lava Jato em junho

 

Michel Temer não vai demitir Alexandre de Moraes porque ele faz, em seu estilo gangsta jacu, o que o governo vive fazendo: mentir e enganar. A favor, por enquanto.

O chefe passou a mão na careca do ministro e passou-lhe um pito paternal. “Não faça mais isso, Alezeira”. E vida que segue.

O vídeo de Moraes em Ribeirão Preto no domingo, um dia antes da prisão de Palocci, fazendo campanha para o candidato do PSDB é escabroso.

Com seu ricto facial estranhíssimo, um Doutor Mabuse de província, as imagens o mostram cercado de milicianos do MBL felizes de estar com o tio.

A certa altura, solta uma bravata para os meninos. A Lava tem apoio do governo Temer, garante. E completa: “Teve operação a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim”.

O episódio está sendo tratado pela mídia e pelo Planalto como um deslize, uma trapalhada, mas é evidentemente mais do que isso.

Moraes se encontrou com a Polícia Federal três dias antes. Está marcado em sua agenda. A Lava Jato vive de vazamentos. A jornalista Eliane Cantanhede havia pedido a cabeça de Palocci no Estadão. A PF usou a hashtag “Hoje Tem” quando saiu às ruas.

Se fosse o governo Dilma, era coisa de bolivarianos, mais um sinal do aparelhamento do estado etc etc. No caso da gangue de Moraes, essa promiscuidade criminosa é tida como virtuosa. Moraes está do lado do bem. Ele pode fazer esses absurdos porque está ajudando o povo do Moro.

Estamos vivendo um relativismo cultural num estado de exceção.

Em junho, Moraes foi a Curitiba encontrar a força tarefa e tirar selfies com Moro. Qualificou o trabalho dos rapazes de “brilhante” e manifestou “total apoio” às investigações. Faltou um coraçãozinho com as mãos e um “tamo junto”.

Moraes culpou o repórter do Estadão no episódio Palocci: “Não foi palpite, foi uma afirmação e eu reitero aqui que da mesma forma que durante todas as semanas, desde que eu assumi, houve operações, iria continuar tendo operações. O que ocorre é que o jornalista truncou uma conversa de quase 20 minutos que eu tive com os movimentos. Ele truncou e criou uma conversa que foi muito maior.”

É de uma desfaçatez que não encontra paralelo na realidade. Ex-advogado de Cunha e de uma empresa acusada de ligação com o PCC, Alexandre de Moraes tem licença para matar num país em que tudo é permitido, já que votos não são necessários.

É mais um símbolo e sintoma do golpe. As instituições estão funcionando.

 

Reunião com a PF três dias antes da prisão de Palocci
Reunião com a PF três dias antes da prisão de Palocci