Temer reedita o desastre econômico de FHC. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 24 de agosto de 2017 às 6:28
Eles

 

O filme é velho e o final é desastroso. Michel Temer, no alto de sua incompetência, reedita o mesmíssimo roteiro econômico escrito por Fernando Henrique Cardoso que resultou, por fim, na quebra do Estado brasileiro.

O anúncio do Governo Federal nesta quarta (23) que pretende privatizar nada menos do que 57 empresas e projetos pertencentes ao povo brasileiro, é a confissão oficial do fracasso do golpe que arruinou, além de tudo, a democracia desse país.

Se o aumento de R$ 20 bilhões na meta do rombo fiscal para 2017 já escancarou a irresponsabilidade no controle dos gastos públicos, a venda do patrimônio brasileiro desnuda o precipício financeiro que se apresenta à nossa frente.

Que fique claro, no que pese os vultuosos valores que o país possui em reservas internacionais adquiridos nos oito anos do governo Lula, a situação econômica do Brasil hoje é gravíssima.

As tentativas desesperadas da equipe econômica de Temer em patrocinar a retomada do desenvolvimento nacional só não foram mais desastrosas graças justamente às medidas puramente de intervenção do Estado.

A liberação de mais de R$ 44 bilhões das contas inativas do FGTS, apesar de não gerar um único emprego, serviu para que os setores básicos da economia, sobretudo o de serviços, não tivessem uma queda ainda mais acentuada.

Sem esse reforço no capital em circulação no país (forjado numa simples canetada) a arrecadação do governo federal seria ainda mais deplorável.

A falta de ideias e políticas consistentes para o setor econômico é tão gritante neste governo que para se dar mais um fôlego à atividade econômica já está previsto mais uma liberação de R$ 16 bilhões, dessa vez nas contas do PIS/PASEP.

Como essas medidas paliativas são limitadas e uma hora extinguem-se de vez, entra em cena a velha “solução” neoliberal: privatizar.

É um absurdo que não tenhamos aprendido nada com o passado.

O desmonte público patrocinado pelo governo FHC além de ter sido um verdadeiro crime de Lesa-pátria, nos legou uma prestação de serviços de péssima qualidade ao custo de tarifas que encontram-se entre as mais altas do mundo.

É inacreditável que num país onde restou provado que as maiores organizações criminosas se orquestraram dentro de empresas privadas, ainda se queira questionar a viabilidade das empresas públicas.

Para as pessoas que acreditam nessa falácia seriam a Odebrecht, a OAS ou a J&F exemplos de honestidade? Para essa gente seria o império de Eike Batista o “Olimpo” da competência empresarial?

É óbvio que empresas públicas estão bastante suscetíveis a casos de aparelhamento e corrupção, mas a solução jamais foi privatizar.

O que acontece historicamente no Brasil é que a privatização do seu patrimônio público foi vendido como a opção única para o malfadado combate à corrupção.

A grande verdade é que o “combate à corrupção” serviu, não só aqui mas em vários países subdesenvolvidos, como uma cortina de fumaça para uma escandalosa subserviência ao grande capital internacional invariavelmente sediado em países ao norte da linha do Equador.

Governantes se perpetuaram no poder através do apoio estratégico de países centrais em troca de riquezas incalculáveis.

Como não associar a compra de deputados efetuada por FHC para a aprovação da reeleição com a compra de deputados efetuada por Temer para barrar o pedido de investigação do MPF que o afastaria da presidência?

Como não depreender que a subsequente entrega da riqueza nacional ao capital internacional atende a uma exigência previamente estabelecida?

Da mesma forma que FHC entregou, entre outras coisas, uma empresa da importância e envergadura como a Vale do Rio Doce, Temer pretende agora entregar, entre outras coisas, nada menos do que o Pré-sal.

É um escândalo.

Os resultados da experiência brasileira com a pauta de privatizações promovida por FHC deveriam ser o nosso maior incentivo a jamais repeti-la.

Para não nos estendermos, basta dizer que as teles hoje são um exemplo de incompetência gerencial e algumas delas dependem de dinheiro… público.

Da Vale, o que temos como resultado da “competência privada” é o desastre ambiental de Mariana. Precisaremos esperar algo ainda maior de uma “Petrobrax”?

Fora tudo, o povo brasileiro jamais usufruiu dos frutos da venda de boa parte de nossas estatais no passado. Ao fim e ao cabo, FHC terminou o seu mandato como um dos presidentes mais rejeitados de nossa história e um país falido.

Por tudo isso, um presidente, ainda que legitimamente eleito, jamais deveria entregar o patrimônio público de seu país sem a devida e expressa autorização de seu povo.

Que esse patrimônio esteja sendo entregue por um criminoso que só chegou ao poder graças a um golpe de Estado, é a desmoralização última de um país enquanto nação.