Como Vertigo tirou de Cidadão Kane o título de maior filme da história

Atualizado em 3 de agosto de 2012 às 19:39
Kim Novak em Um Corpo que Cai: tchau, Cidadão Kane

“Dizer que o filme é seu favorito, tudo bem. Dizer que é ‘o melhor’ é um erro de julgamento. Numa corrida, ok: alguém passa a linha de chegada em primeiro e é o melhor. Mas cinema não é uma corrida”.

Woody Allen, autor da frase acima, não foi consultado na pesquisa que a revista Sight & Sound faz a cada dez anos, desde 1952, para eleger os 10 maiores filmes de todos os tempos. Pela primeira vez em meio século, Cidadão Kane, a obra-prima de Orson Welles de 1941, perdeu o posto para Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock, suspense psicológico lançado em 1958. Foram 34 votos a mais. Em 2002, o mesmo Hitchcock tinha perdido para Welles por cinco votos.

Um exército de 846 acadêmicos, distribuidores, roteiristas, críticos e blogueiros (incluídos pela primeira vez) participou da votação, mandando sua lista dos 10 mais. A convocação da S&S dizia: “Deixamos para sua interpretação. Você pode escolher entre os 10 que considera mais importantes para a história do cinema ou os 10 que representam os mais elevados padrões estéticos ou ainda os que tiveram o maior impacto em sua visão do que é o cinema”. A lista completa ainda inclui Era Uma Vez em Tóquio, de Ozu (1953), A Regra do Jogo, de Jean Renoir (1939), e 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Kubrick (1968).

Orson Welles como Kane: como comparar duas obras-primas tão diferentes?

É apenas mais uma lista. Mas é levada muito a sério por pessoas que adoram listas (mais de metade da humanidade, seguramente). No que um thriller fenomenal como o de Hitchcock, com Kim Novak enlouquecendo James Stewart, seria maior que a história de ascensão e queda de Kane? Eu tendo a concordar com Woody Allen: sejam quais forem os critérios, é muito difícil escolher entre animais tão diferentes. Por que uma ficção científica existencialista como 2001 fica na sexta colocação e um faroeste como Rastros de Ódio, de John Ford, em oitavo? Arte não é uma corrida de obstáculos. Ou é? De qualquer maneira, gostaria de deixar registrada a minha contribuição não solicitada ao debate, na forma dos meus dez filmes favoritos do ano passado. A lista é pessoal e intransferível:

  1. Projeto Nim, de James Marsh (documentário)
  2. 13 Assassinos, de Takashi Miike
  3. Guerreiro, de Gavin O’Connor
  4. Melancolia, de Lars Von Trier
  5. O Abrigo, de Jeff Nichols
  6. Tiranossauro, de Paddy Considine
  7. O Vencedor, de David O. Russel
  8. O Guarda, de John Michael McDonagh
  9. A Separação, de Asghar Farhadi
  10. Reino Animal, de David Michôd
Nick James, editor da revista Sight & Sound, anuncia os 10 maiores filmes