Um estudo sobre homofobia e auto aceitação sexual ajuda a explicar o ódio que Malafaia sente. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 28 de julho de 2016 às 10:11
"Beijo no coração de vocês"
“Beijo no coração de vocês”

 

Declarações feitas por Silas Malafaia em 2011 serão investigadas pelo Tribunal Regional Federal, que acolheu uma manifestação da Procuradoria Regional da República da 3ª Região.

O MP cobra do pastor uma retratação “por incitação à violência contra homossexuais” ao criticar o uso de imagens religiosas na Parada do Orgulho LGBT daquele ano.

“É para a Igreja Católica entrar de pau em cima desses caras. Baixar o porrete parra esses caras aprenderem. É uma vergonha!”, falou.

Segundo a procuradora Eugênia Augusta Gonzaga, a retratação pública tem “a função educativa de desencorajar o ofensor a reproduzir condutas semelhantes”.

Malafaia, em novo vídeo, acusou o procurador (sic) de “estar a serviço da causa gay”, que ele, Malafaia, “usou uma figura de linguagem” e que “vai ganhar em nome de Jesus”.

É a nova encrenca dele em torno de um assunto que lhe corrói a alma de uma maneira muito acima do razoável. O boicote à propaganda do Boticário, para ficar num outro episódio barulhento, se devia ao fato de que, para ele, “família é milenar, homem, mulher e sua prole. Tenho o direito de preservar macho e fêmea porque essa é a história da civilização humana”. Etc etc.

Tudo é culpa do “gayzismo”. O que o incomoda tanto? O que lhe dói tanto?

O comportamento obsessivo e histérico do maior pé frio na história recente da política brasileira pode ser explicado pela ciência. Um estudo sobre homofobia, publicado em 2012 no respeitado Journal of Personality and Social Psychology — publicação especializada mensal que circula desde 1965 — ajuda a entender o ódio e o medo que ele e seus colegas sentem.

Durante meses, 784 universitários dos EUA e da Alemanha foram convidados, primeiro, a avaliar sua orientação sexual de 1 (altamente gay) a 10 (muito hétero).

Na sequencia, se submeteram a um teste. Imagens e palavras associadas à sexualidade lhes foram mostradas. Eles foram então instados a classificá-las de acordo com a categoria apropriada (gay ou hétero) o mais rapidamente possível.

Houve um elemento crítico adicional, como explicou o professor Richard Ryan, idealizador da coisa: “Antes de cada palavra e imagem, a palavra ‘eu’ ou ‘outro’ aparecia na tela do computador por 35 milésimos de segundo — tempo suficiente para os estudantes processarem subliminarmente o dado, mas curto o suficiente para que eles não pudessem vê-lo conscientemente”, escreveu num artigo no New York Times. 

“A teoria, conhecida como associação semântica, é que quando ‘eu’ precede palavras ou imagens que refletem sua orientação sexual (por exemplo, imagens heterossexuais para um heterossexual), você as classifica na categoria correta mais velozmente do que quando ‘eu’ vem antes de palavras ou imagens que são incongruentes com a orientação sexual (por exemplo, imagens homossexuais para um heterossexual). Essa técnica distingue de forma confiável indivíduos que se identificam como heterossexuais dos que se definem como gays, lésbicas ou bissexuais.”

Entre o grupo que se disse “altamente hétero”, surgiu uma subseção de cerca de 20% deles que indicaram uma atração pelo mesmo sexo. Esse mesmo pessoal era “significativamente mais propenso a favorecer as políticas anti-gays e a atribuir punições mais severas para autores de pequenos crimes se o autor fosse presumivelmente homossexual”.

Para o doutor Ryan, “nem todos aqueles que fazem campanha contra gays e lésbicas sentem desejo por pessoas do mesmo sexo. Mas ao menos parte deles estão lutando contra si mesmos, tendo sido eles mesmo vítimas de opressão e incompreensão”.

A fixação de Malafaia com a sexualidade alheia embute ainda a possibilidade de ele ser apenas um oportunista faturando em cima da ignorância de seu rebanho. Mas isso é óbvio, não necessita de prova científica — e não explica, sozinho, esse grau de indigência mental.