Um manifesto contra a obsessão pela beleza entre as mulheres

Atualizado em 12 de setembro de 2014 às 10:30

Publicado no site Biscate Social Club. A autora é Karen Polanz.

image

Nos últimos dias, está rolando a campanha “Stop The Beauty Madness” (“Parem Com A Loucura Pela Beleza”) nas redes sociais. Criada pela escritora Robin Rice, a campanha surgiu com o intuito de questionar os padrões de beleza valorizados hoje em dia. Aderindo ou não ao objetivo original da proposta, muitas mulheres cisgêneras estão postando suas fotos sem maquiagem e sem filtro e desafiando outras mulheres a também fazerem o mesmo.

Não participei do desafio, até porque estou sem maquiagem na maioria de minhas fotos no Facebook, inclusive em algumas do perfil. Mas não penso que o desafio seja besteira, não. Afinal, crescer sendo menina é saber que seu papel no mundo, pelo menos um dos principais, é estar bonita para poder agradar e ser mais aceita. Mas aí você não nasce como as modelos das revistas (aliás, nem elas mesmas nascem assim!), então parece quase que uma necessidade esconder e camuflar qualquer “desvio” no rosto e no corpo. A maquiagem está aí para isso, mesmo que também possa assumir funções mais artísticas e lúdicas – e quem já se reuniu com as amigas para se maquiar antes de algum evento sabe bem do que estou falando.

Não somos, portanto, contra a maquiagem em si. Mas estamos questionando a noção – bastante difundida pela mídia e pelas gigantes redes de cosméticos, interessadas em consumidoras fiéis -, de que se sentir bem e bonita deva passar, necessariamente, pelo uso da maquiagem. Em outras palavras, somos contra a ideia extremamente extenuante de que não seja possível ser feliz sem camuflar irregularidades na pele, de que a maquiagem tenha se tornado a poção milagrosa que vai trazer imediatamente nossa autoestima de volta.

Apesar de estarmos nos opondo a tal modo de pensar, admito que seja uma ideia que deu muito certo, porque não é nada fácil se livrar da cultura da beleza. Tanto que, nas redes sociais, postar uma foto sem maquiagem se torna, realmente, um “desafio”, no sentido que envolve riscos para a nossa já frágil autoestima. Vemos várias mulheres, e até garotas, se adiantando a possíveis críticas à sua aparência, justificando as tão comuns olheiras, por exemplo, com a noite anterior mal dormida, como que se desculpando pela cara limpa. É triste, mas a gente se sente pressionada, de verdade, a pedir desculpas pelos poros abertos, pelos cravos, pelos cílios não curvados. É como se nosso rosto ofendesse.

E aí que vemos alguns homens dizendo que estão levando “sustos” com mulheres sem make, tirando um sarro daquelas que “pareciam tão lindas até participarem do desafio”, implorando que, “para o bem da imaginação masculina”, voltem a usar maquiagem e filtro e o que quer que seja para parecer diferentes do que são. Demonstram, sobretudo, uma leviandade típica dos que acordam e saem para o mundo sem sentir que precisam “esconder rugas e imperfeições”, dos que nem fazem ideia da violência que é tentar se ajustar, muitas vezes a altos custos, a padrões de beleza irreais e nocivos.

O cenário não parece animador, mas a campanha é válida e poderia contar com desdobramentos ainda mais corajosos, como ir a uma festa de casamento sem maquiagem – ou a quaisquer outros eventos considerados importantes e, por isso, não dignos da nossa cara lavada. Enfim, muita força e união, mulherada, porque mudanças na sociedade não são fáceis e não vêm de graça.

(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).