Unidos no oportunismo, FHC e Ciro tentam faturar em cima do julgamento de Lula. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 14 de dezembro de 2017 às 9:18
FHC e Ciro em outras circunstâncias

Um homem é um homem e suas circunstâncias, já dizia Dadá Maravilha.

As circunstâncias não são as melhores para Ciro Gomes e Fernando Henrique Cardoso, mas eles não precisavam descer tão baixo para tirar uma casquinha do julgamento “célere” (palavra do ano) de Lula.

Não os engrandece, não os coloca numa posição de vantagem na corrida eleitoral — e não vai lhes trazer um único voto a mais.

Todos acham que tiram benefícios. Na verdade, estão atendendo as hostes fascistas de direita e de esquerda fazendo demagogia vagabunda, conferindo falsa simplicidade a um assunto complexo e espinhoso.

Paradoxalmente, conferem a Lula o papel decisivo que eles não têm na eleição.

“Não é razoável que se se queixe de que haja pressa. Justiça boa é a Justiça rápida. Evidentemente deveria ser para todos. Eu, Ciro Gomes, se tivesse uma acusação contra mim, desta profundidade, gostaria que fosse julgada com mais velocidade possível, porque eu saberia que sou inocente”, disse o candidato do PDT após participar de debate no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro.

“Será que o Lula, do alto da respeitabilidade dele, vai fazer o Brasil refém de chicanas judiciais, de maneira que no final a eleição fique ilegítima?”

O que Ciro pensa que fatura com isso é um mistério. Certamente não serão os votos dos petistas caso ele precise deles.

Iguala-se, em oportunismo, ao desafeto Fernando Henrique Cardoso, que vive de se corrigir de modo a agradar os donos — no caso, a família Marinho.

Em entrevista ao Globo, refez a declaração na convenção do PSDB segundo a qual preferia vencer Lula nas urnas.

“Fui mal interpretado quando disse isso na convenção. Acharam que eu era contra a prisão do Lula. Quis dizer que é chato ver um ex-presidente na cadeia. Não é meu problema se o Lula cometeu ou não crime e se ele tem ou não que ir para a cadeia. É da Justiça”, afirmou.

A Justiça “não pode deixar que o país fique em suspenso sem saber o que vai acontecer. Tem que ser célere. Não acho justo que uma decisão definitiva não seja tomada a tempo da eleição. O Brasil merece que essa questão seja esclarecida até lá”.

Aulas de ética vindas da reserva moral do partido de Aécio Neves. Pois é.

Fernando Henrique não surpreende. Ciro, por outro lado, parece ter caído numa armadilha que só a pressa, a ambição e a notória incontinência verbal explicam.

Falta a ambos grandeza, sabedoria e precaução. Aceitar a excepcionalidade jurídica do processo de Lula beneficia a quem?

Não a eles, muito menos à Justiça, ainda menos ao Brasil. Mas isso é o que menos importa. Até o final de 2018 muito lixo vai passar por baixo dessa ponte.