Usar o Palácio dos Bandeirantes para fotos é um dos problemas do negócio da filha de Alckmin. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 7 de novembro de 2016 às 18:02
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Sophia e o pai

 

A nota saiu na seção “Radar” da Veja e me foi enviada pelo colega Clayton Netz:

Sede do governo estadual de São Paulo, o Palácio dos Bandeirantes vem tendo sua rotina burocrática quebrada por ensaios de moda. Filha mais velha do governador Geraldo Alckmin, com 36 anos, Sophia Alckmin, utiliza o local para realizar suas produções.

Formada em Direito, ela não exerce a carreira, mas faz bastante sucesso como blogueira de moda. Aos seus 400 mil seguidores do Instagram, exibe uma profusão de fotos em que ostenta sapatos, bolsas, joias e roupas de grife.

Como cada ensaio desses exige trabalho exaustivo, os funcionários do Palácio ficam ali de prontidão, como forma de garantir que nada falte à princesa.

 

O que levaria a filha de Alckmin a mobilizar o que deve considerar seus empregados para que as fotografias que alimentam seu negócio saiam perfeitas?

Ela imagina que esse pessoal trabalha para ela? Uma Elizabeth no Buckingham do Morumbi? Os funcionários fazem hora extra?

Parte da explicação é que Sophia tem ciência de que, como o pai, é blindada. Não é filha de Lula ou de Dilma.

Em 2005, amigos de Luís Cláudio, caçula de Lula, postaram fotos de quando ficaram hospedados no Alvorada. Foi um escândalo. A Folha chamou o palácio de “colônia de férias”.

Sophia é uma típica dondoca, mas isso é problema dela. A questão é que esse tipo de — vá lá — “malandragem” não é novidade e vai além de possível falta de noção.

Ex-vendedora e “responsável por novos negócios” da Daslu, ela esteve na secretaria da Fazenda de São Paulo, há 11 anos, na primeira encarnação do governo Alckmin, pedindo “regime especial de recolhimento de tributos” para a loja de luxo.

O próprio secretário contou que a viu algumas vezes com representantes do estabelecimento. A dona da Daslu, Eliana Tranchesi, acabaria condenada por fraude em importações e falsificação de documentos. Chegou a ficar presa e foi solta por meio de um habeas corpus.

Sophia é blogueira de moda. Ela usa a supracitada conta no Instagram para oferecer seus serviços. Como quase tudo nesse meio, é movida a jabá.

Os blogs de moda funcionam de uma maneira, digamos, peculiar. Têm uma ética particular.

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As imagens do “insta” de Sophia, bem produzidas, são acompanhas de legendas fofas em que ela conta que está usando roupas ou acessórios de determinada marca. Não há aviso algum para seus fãs de que ela recebeu aquilo de graça e está fazendo propaganda.

Aparecem “testemunhos” do gênero: “Total Black lá no Bettys ❤️❤️ com malha e bota de tachas @carmensteffens“.

As filhas e o marido Mario Ribeiro são largamente utilizados nessa jabalândia. Uma de suas meninas ganhou um triciclo de “presente” de uma fábrica de brinquedos famosa. A mãe registrou, obviamente, quem deu.

Geraldo Alckmin e Dona Lu aparecem em vários momentos família. “Tarde relaxante ??? no @aigaispa. Trouxe minha mãe no spa comigo para fazermos um programa só nós duas”, ela escreve, mencionando o patrocinador, comme il faut.

O “endosso” vale também para restaurantes, academias, restaurantes, livros etc etc. Ao que parece, o cotidiano de Sophia é inteiramente na faixa. Ela não gasta com absolutamente nada.

As pessoas, em sua rede, são todas vendedoras desse esquema. Quanto Sophia ganha, e se paga impostos, são outros quinhentos.

Nesse sentido, que mal há em “pedir” para o pessoal do Palácio dos Bandeirantes ajudar nas montagens? No mundo de Sophia, é a coisa mais normal. Agora, se o seu sobrenome fosse Silva, a história seria outra.

 

Sophia e o pai

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