Vamos aos fatos: como foi o convite para a entrevista com Lula

Atualizado em 19 de novembro de 2014 às 15:52

Lula 2

 

Foi assim:

A nossa editora de mídias sociais, Erika Nakamura, me comunicou que uma assessora do Instituto Lula me procurou no Facebook do DCM e pedia meus contatos.

Eles lhe foram passados.

Em seguida, chegou um email que reproduzo aqui: “Estamos organizando uma coletiva com o ex-presidente Lula e eu gostaria de falar com você sobre isso.”

A assessora me telefonou em seguida. Ela indicou o dia (8/4/2013), o horário (10h) e o local (rua Pouso Alegre, 21, Ipiranga – SP). Pediu sigilo até lá.

Na data marcada, cheguei ao prédio com paredes espelhadas. Os jornalistas fomos levados a uma sala para um café e esperamos até que o local da entrevista estivesse pronto. A única combinação foi que cada um teria direito a uma pergunta e que não se fizesse vídeo, já que haveria transmissão online.

Fiquei sabendo ontem à noite do editorial do Estadão. Comentei com minha mulher. “Mas alguém ainda lê o Estadão?”, ela devolveu. Voltamos a assistir a série “Downton Abbey”, que também se passa em outro século.

Não, não houve qualquer orientação para “ter de antemão a garantia de não ser surpreendido por perguntas incômodas, muito menos ter contestadas as suas respostas”, como saiu no jornal — pego na mentira, como já escreveu o Paulo. É invenção.

Também faz parte do mundo da ficção a informação de que não houve “perguntas incômodas”. Lula não ficou confortável ao falar sobre a indicação de Joaquim Barbosa para o Supremo, respondendo a Rodrigo Vianna. Também mostrou irritação quando retomei a questão do “Volta, Lula”. De resto, abordou a crise da Petrobras, as denúncias contra André Vargas, Dilma, Eduardo Campos e tudo o que você já viu e ouviu.

Sim, foram três horas e meia de duração. Alguém chiou que ele fala demais. Ora, o cara é político. (Um colunista americano comentou, recentemente, sobre a verborragia de Obama num encontro com a imprensa, ao que um editor do Telegraph observou que a reclamação não fazia o menor sentido. Era um fato da natureza, como reclamar que “Mick Jagger é até OK, mas canta demais”).

O Estadão levou DOIS DIAS para perpetrar uma diatribe parnasiana maldosa, mal apurada e confusa — depois de DOIS DIAS repercutindo as declarações de Lula. 

(Me contaram, certa vez, que houve tempo em que os editoriais do Estadão eram lidos com reverência. Ninguém é capaz de lembrar uma linha, mas persistia o mito. Apenas um bordão dessas peças era citado, mas como piada: “dito isto, cremos ter dito tudo”. Dava uma medida da auto-importância do jornal.)

Como o Estadão pode cobrar isenção de alguém? E as cabeças de jornalistas que foram entregues após telefonemas de José Serra, para ficar apenas num caso? (Aliás, eis uma entrevista de Serra para a TV Estado em que ele passeia lindamente por assuntos como Kassab, PMDB, polícia, sem o mínimo incômodo).

Como o Estadão pode cobrar qualquer coisa depois de publicar matérias como a dos golfinhos terroristas da Ucrânia que eram treinados para empunhar fuzis, um trote escandaloso?

Agora, por que Lula não conversou com o Estadão? Não sei, mas algumas das respostas estão naquele artigo. Por que Lula não faz coletivas como os presidentes americanos? Bom ponto, que cabe ao time que faz a comunicação dele responder.

Talvez porque os presidentes americanos saibam que a imprensa americana será cobrada quando incorre em calúnia e difamação. Nós estamos no Brasil e o Estadão não é o New York Times e nem o Washington Post. Pergunte a qualquer golfinho com fuzil.