“Você fica linda gozando”: um novo capítulo das aventuras eróticas de ANÔNIMA

Atualizado em 27 de dezembro de 2015 às 9:36
"Percebeu minha respiração cada vez mais ofegante, meu corpo se movendo em direção ao seu como quem sente e pede mais prazer"
“Percebeu minha respiração cada vez mais ofegante, meu corpo se movendo em direção ao seu como quem sente e pede mais prazer”

No último capítulo reencontrei Marcos, um amigo que eu não via há alguns meses, desde que ele fora passar uma temporada fora do país. Temos uma amizade colorida pelo erotismo, pela liberdade e pelo respeito. Jamais nos cobramos coisa alguma. Jamais forçamos a entrada no mundo do outro. Trocamos prazer e sorrimos, apenas, como se tudo não passasse de um gozo. A vida é um cabaré, diria Phill Veras.

Entre uma provocação e outra, Marcos me falou de um amigo que conhecera no Chile. Um escritor, boêmio e promíscuo. Falou-me dele a noite inteira e minha imaginação, àquela altura fertilíssima, desenhou-o como o Velho Buk. Eu estava curiosa para conhecê-lo. E ele também, ao que me parecia. Marcos me dissera que ele – o amigo – tinha uma ideia para nós dois. Que tipo de ideia um escritor desconhecido teria para mim?

– Acho melhor ele mesmo te contar. Você vai gostar de conhecê-lo.

– Fala logo!

– Relaxa, linda. Vou fechar um pra a gente.

Estávamos relaxados. Nossos corpos nus se misturavam, derramados sobre o tapete. Era uma noite linda. Podíamos contemplar as estrelas através da janela entreaberta e a voz precisa de Nina Simone preenchia toda a sala, como se nos invadisse os poros. Ele brincava com a ponta dos dedos na minha barriga desnuda, passeando por cada curva.

Nos movíamos como felinos. Nos entreolhamos por um instante que me pareceu curto demais e nos beijamos longamente. Nós sempre começamos tudo de novo. Senti sua mão, agora menos suave, tocando os meus seios. Ele brincava com a língua no canto da minha boca enquanto estimulava meus mamilos cada vez mais arrepiados.

Meu corpo é sensível demais quando ele está por perto. E ele está atento a cada sinal. Percebeu minha respiração cada vez mais ofegante, meu corpo se movendo em direção ao seu como quem sente e pede mais prazer. Continuou a me tocar, num ritmo perfeito, até ouvir o meu gemido incontido.

Todas as vezes em que eu saía do êxtase, via o seu rosto iluminar-se, como se ele próprio tivesse acabado de ser presenteado com um orgasmo. “Você fica linda gozando”, ele diz.

Eu sempre retribuía à sua gentileza – aliás, há ato de gentileza e romantismo mais preciso do que despertar o prazer no corpo de uma mulher?

Beijei-o, lasciva, e senti o seu membro rígido na minha boca. Tem o tamanho ideal: não sobra ou falta coisa alguma. Ele se move devagar, enquanto ora controla os movimentos com suas mãos nos meus cabelos, ora deixa que eu os controle, desfrutando, apenas. Sua respiração ofegante é um prenúncio delicioso do seu ápice. Engoli cada gota do seu prazer e compartilhei-o com ele, beijando-o no fim.

– Acha que é tão fácil assim burlar a minha curiosidade? – disse, enquanto me recostava em seu peito.

– Tudo bem, linda, você saberá em breve. Vamos encontrá-lo amanhã?

Havia um bar no centro que sempre fora o nosso predileto. Talvez pela meia-luz, pelo blues, pelas pessoas permissivas ou pelas bebidas baratas.

Cheguei sozinha, usando um vestido preto finíssimo, quase transparente, que me deixava tão a vontade quanto nenhuma mulher de cinta modeladora e salto alto jamais estivera. O conforto é sexy, eu pensava. Meus mamilos não estavam visíveis, mas imagináveis sob o tecido fino: era notório que estavam livres de sutiãs e enchimentos.

Avistei-o em uma mesa lateral. Ele tem uma pontualidade britânica. O amigo escritor, nem tanto, ao que me parecia.

– Oi, honey.

– Oi. Vou buscar uma cerveja.

No balcão, abri a garrafa pequena e o conteúdo, prestes a congelar, ensaiou escapar. Eu o contive, abocanhando-o distraidamente. Olhei para o lado e um homem de meia idade assistia à cena, muito perto de mim. Pela sua expressão, talvez tenha imaginado o mesmo gesto na sua cama. Sorri e virei-lhe as costas, sentindo a garrafa gelada passar, sem querer, pelo meu mamilo quase desprotegido pelo tecido tão fino.

Trocamos mais algumas palavras à mesa até que eu avistei um senhor esquisito, barbudo, quase maltrapilho. Usava um terno velho e alinhadíssimo, sapatos bem engraxados e os cabelos desgrenhados sobre o rosto fino.

Tinha dentes amarelos e muito cerrados e olhos de um verde límpido, que transmitiam uma malícia que poderia ser captada sem uma palavra sequer.

– Querida, este é Vicente.

– Vicente Cadiz. E você é tão linda quanto eu imaginei.

– Obrigada – disse, atônita, curiosa e ligeiramente assustada. O que, afinal, ele pensara?

Não perguntei imediatamente. Deixei que ele falasse de si, de sua vida confusa no Chile, de sua estadia agradável no Brasil e das impressões que tivera daquele bar. Ele dizia que gostava de cervejas artesanais encorpadas e que já escrevera oito livros.

Não havia uma temática específica, mas todos eles envolviam algum erotismo e alguma boemia – pelo visto o autor se doava de fato à sua obra.

– Eu disse a ela que você teve uma ideia.

– Sim, ele disse. Estou curiosíssima. Só deixei-o falar por educação.

Ele riu com vontade por alguns minutos e me olhou fixamente, agora quase sério. Eu esperava que sua boca se abrisse como esperei pouquíssimas coisas na vida.

[continua]