Você não precisa conhecer a obra de Stephen Hawkin para se emocionar com A Teoria de Tudo

Atualizado em 6 de fevereiro de 2015 às 13:55

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O Cinema de Buteco adverte: o texto a seguir pode possuir informações sobre o que acontece na história (spoilers).

Você não precisa ser ateu ou conhecer a obra de Stephen Hawkin para se emocionar com A Teoria de Tudo (The Theory of Everything, 2014). Na verdade, esse distanciamento é até positivo para podermos absorver toda a mensagem da produção sem ter que se preocupar se a história vista na ficção corresponde com a realidade. Imagino que muitos sabem apenas que Hawking é aquele físico que reluta em acreditar em Deus e possui uma voz robótica. E ainda aposto numa parcela que sequer ouviu falar de uma das figuras mais importantes vivas atualmente.

A Teoria de Tudo é mais que uma cinebiografia sobre a vida do físico. Além de nos apresentar todo o começo da trajetória de Hawking, com detalhes sutis sobre a presença oculta da doença que o levaria a viver numa cadeira de rodas, o filme é também um romance sobre como as pessoas abdicam de seus próprios desejos para dedicar todo o cuidado para outra pessoa. No caso, Hawking é ofuscado por sua esposa Jane, vivida por Felicity Jones, que inclusive recebeu uma indicação ao prêmio da Academia por sua atuação. Por melhor que seu companheiro de cena Eddie Redmayne esteja, é ela quem rouba a cena de verdade.

Muitos costumam dizer que por trás de todo grande homem existe uma grande mulher. Jane é a encarnação desse ditado. Mesmo com toda a genialidade de seu marido, ele poderia não ter conquistado todo o reconhecimento sem o apoio e o amor incondicional de Jane. E olha que ela se apaixonou por Hawking mesmo sabendo que estava se envolvendo com um ateu – e ela sempre foi mais religiosa. Abriu mão de suas próprias convicções para viver um amor que superou todas as previsões, assim como Hawking superou todos os diagnósticos de que teria apenas mais 24 meses de vida.

No entanto, amor nenhum sobrevive diante a sensação de insatisfação. Nós, como humanos, desejamos que todo o nosso carinho e atenção seja retribuído de alguma maneira. A condição de Hawking impedia que Jane tivesse saciado seus desejos por uma relação com alguém normal. Pode parecer cruel dizendo assim, mas justamente ao conhecer a figura de Jonathan, a moça passa a viver um grande conflito interior sobre fazer o que tem vontade ou permanecer ao lado do marido.

A cena em que o casal finalmente decide romper é de uma sensibilidade imensa. O diretor foi eficiente em firmar a sua câmera naquilo que era mais importante: os olhares e expressões de Redmayne e Jones. Mantendo o tom presente ao longo de toda a narrativa, o casal demonstra respeito mútuo e consciência de que aquele era realmente o ponto limite em que poderiam permanecer juntos.

Um dos grandes trunfos de A Teoria de Tudo é o desempenho de seus protagonistas. Não fosse a sutileza e naturalidade com que a dupla trabalha e desenvolve seus personagens, o resultado provavelmente não seria tão interessante e capaz de prender a atenção do público do começo ao fim. O mérito também se deve às escolhas do diretor James Marsh, que em momento algum deixa sua obra cair pelo caminho mais fácil de comover o espectador com uma trilha sonora piegas e cenas desnecessárias. Marsh optou por contar uma simples história de amor e superação, evitando questões mais polêmicas relacionadas aos questionamentos de Hawking.

A Teoria de Tudo é uma obra indicada tanto para os curiosos por Stephen Hawking quanto para os que desconheciam sua obra até então. Acredito que os admiradores do trabalho e legado do físico poderão se decepcionar, enquanto aqueles que preferem dedicar sua admiração à pessoa por trás de todos os livros e teorias terão uma recompensa maior. Como disse, não sou familiarizado com a obra ou vida de Hawking, e nessa posição posso considerar que o longa-metragem funciona bem para me dar uma base maior para dizer que Hawking é bem mais que aquela voz robótica do Google. Bem mais mesmo.