“Vou quebrar sua cara”: Por que Doria não afasta seu descontrolado secretário de Cultura. Por Donato

Atualizado em 1 de junho de 2017 às 13:01
Sturm e o chefe

 

“Vou quebrar sua cara”, disse André Sturm a Gustavo Soares, produtor cultural. Com peculiar soberba, chamou-o ainda de ‘menino’, ‘babaca’. E ameaçou de agressão fisica. Mais de uma vez.

Gustavo Soares, incrédulo com a atitude do secretário de João Doria, desafiou-o a cumprir a ameaça. “Não vou sujar minha mão”, afirmou Sturm.

Questionado, o prefeito Doria minimizou o ocorrido com seu o secretário municipal de Cultura. Disse que era ‘uma bobagem’, como se fosse mimimi de artista.

Em resposta, artistas ocuparam a Secretaria da Cultura na tarde de ontem. Eles pedem a renúncia Sturm que saiu fugido pelos fundos e escoltado pela GCM. É a quarta vez que ele precisa sair dessa maneira só este ano.

Aquilo que para o resto do mundo significa agressividade e violência, para João Doria parece contar pontos. Afinal, ele nada fez contra André Sturm.

O comportamento autoritário e brucutu está entranhado na gestão Doria, que vem se especializando em enviar tratores antes de qualquer diálogo.

Depois de derrubar uma pensão com pessoas dentro, ontem novamente tentou demolir outra edificação na região da cracolândia. Foi impedido por populares e pela total falta de autorização para a ação.

Andréa Sturm não pilotava tratores mas estava anunciando mais um fim de verba, mais um estrangulamento a instituições de Cultura. Com todo seu desequilíbrio emocional exposto, ainda ameaçou fechar a Casa Ermelino Matarazzo como se fosse o proprietário.

O local estava abandonado havia anos e só virou Casa Cultural depois que um coletivo decidiu ocupá-lo. Até o ano passado, a prefeitura incentivava e destinava verba.

Mas então o gestor moderno João Doria assumiu a prefeitura e congelou quase metade do orçamento destinado à Cultura. Dos R$ 453,3 milhões previstos, R$ 197,4 milhões estão congelados. Para adotar a medida, Doria culpou o caixa deixado por Fernando Haddad. Óbvio.

Desde então criou-se um clima de guerra entre uma classe e o secretário que deveria representá-la – isso deve ser a tal modernidade, mas para mim se chama paradoxo – e entidades de cultura estão agonizando e fechando.

“Essa medida é covarde. É muita gente que depende desse dinheiro público. Antes de mais nada é lei, uma lei conquistada, é legítimo. Ele elege quando e para quem vai soltar o dinheiro? Então o Piá não é importante?”, disse Daniel Ortega, ator da Companhia Artehum e colaborador do Piá (Programa de Iniciação Artística e Vocacional). O Piá não recebeu mais nenhum centavo e mais de 8 mil crianças que participam do programa serão prejudicadas.

“A verba para cultura não pode ser congelada. A cultura é prioridade em todos os países desenvolvidos. Ela representa a identidade de um povo, a expressão de um povo. Ela só não é importante para quem não se entende como cidadão, que não pertence à massa. Se quisermos ter direitos, precisamos ter a cultura preservada. Um povo com cultura e educação é um povo que resiste, que entende o que está acontecendo. Quando se retira recursos dessas áreas é porque querem manter esse povo como um gado”, falou ao DCM o ator e diretor Tadeu di Pietro durante um protesto da classe artística ocorrido em frente ao Teatro Municipal no final do mês de março.

Como se pode ver, a tesourada no orçamento que tanto preocupava os artistas, nem é o único dos problemas. Eles ainda podem ser esmurrados pelo secretário de Ultimate Fighting.