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A CPI que não prende um lobista mentiroso pode prender um general? Por Moisés Mendes

Fabio Wajngarten na CPI da Covid. Foto: Reprodução

Publicado originalmente no Jornalistas pela Democracia:

Por Moisés Mendes

Três perguntas possíveis, entre dezenas que podem ser feitas depois do depoimento de Fábio Wajngarten na CPI do Genocídio, considerando-se que o sujeito produziu uma mentira a cada 10 minutos e reafirmou a mesma mentira 10 minutos depois.

Esta é a primeira pergunta: o presidente da CPI, Omar Aziz, não quis gastar o primeiro pedido de prisão, ao rejeitar o apelo de Renan Calheiros para que Wajngarten saísse preso do Senado?

A segunda pergunta: se Omar Aziz vacilou, ao dizer que não pretende ser carcereiro de ninguém, isso significa que, se não prenderam um lobista mentiroso, não terão autoridade para prender um general, se Eduardo Pazuello também mentir?

E esta é a terceira pergunta: ao desautorizar o apelo do relator, negando o pedido de prisão feito por Renan Calheiros, Aziz pode ter criado a primeira fissura interna na CPI, com a imposição do seu comando de acomodador que se apresenta como sensato?

Eis as questões, que podem ser respondidas das mais variadas formas. A mais inquietante e que permite mais desdobramentos é a que levanta dúvidas sobre o poder da CPI para conter e enquadrar mentirosos.

Se Fábio Wajngarten expõe todas as informações que o caracterizavam como lobista e não como então servidor do governo, se mente ao responder quase tudo sobre as peças de propaganda do governo para a pandemia, se desafia os senadores fazendo com que repetissem a mesma pergunta mais de uma vez (na tentativa de criar confusão) e se nada disso foi suficiente para retirá-lo preso do Senado, quem poderá ser preso pela CPI?

Pode estar descartada desde já a possibilidade de prisão de Pazuello, temida dentro do governo e das Forças Armadas. O que Omar Aziz fez foi um movimento que desarma toda a CPI.

Se Fábio Wajngarten fosse preso em flagrante, como desejavam Renan Calheiros e os senadores Randolfe Rodrigues e Fabiano Contarato, Pazuello também poderia ter o mesmo destino, se viesse a mentir.

Wajngarten não foi preso e ninguém será preso. Wajngarten criou habeas corpus a todos os próximos depoentes. Não haverá como prender os próximos mentirosos, se o primeiro a mentir sem escrúpulos e sem medo saiu livre e solto.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

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