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A estranha censura no metrô a um novo livro sobre os black blocs

 

No próximo dia 28 seria iniciada uma campanha publicitária da Geração Editorial para lançamento do livro “Mascarados” de autoria de Esther Solano, Bruno Paes Manso e Willian Novaes. A obra é fruto das pesquisas e entrevistas conduzidas pelos três autores (uma socióloga e dois jornalistas) acerca do fênomeno black bloc ao longo dos últimos 16 meses desde o estopim em julho de 2013.

Como mídia escolhida para veiculação, o metrô. Cartazes em 20 composições de trens. Uma vez tratar-se de anunciante com cadastro aprovado, a Geração Editorial no entanto supreendeu-se na última sexta-feira com a recusa da companhia de transporte em aceitar o material. O metrô censurou a campanha do livro ou está censurando o próprio livro?

“Essa atitude é justamente a que quero criticar com este livro. Por que julgar, censurar, sem conhecer? O livro representa a proposta contrária, traz o debate. O conhecimento e a pesquisa servem para combater essa intolerância que nos faz a cada dia mais ignorantes”, disse a professora da Unifesp, Esther Solano, que sempre enfrenta um questionamento rasteiro a cada vez que trata do tema. “Sempre me perguntam se sou a favor ou contra em vez de tentarem entender.”

“Não esclareceram muito bem. Não há nada no mídia kit [documento com orientações sobre a publicidade] que alerte. Alegaram incitação à violência, é absurdo, é um livro de entrevistas inclusive com um coronel da PM”, disse Willian Novaes.

Procurado pelo DCM, o departamento de imprensa do metrô recusou-se a responder a motivação da recusa mas afirmou que a decisão era definitiva.

Realmente o mídia kit é uma peça publicitária de venda dos espaços. Em suas 44 páginas apenas é possível saber sobre formatos, modelos de comercialização e dados como o perfil dos usuários por linhas, um público de 4 milhões de usuários por dia, que estes permanecem no sistema em média por cerca de 30 minutos, etc. E, não menos importante, está no mídia kit que um dos atrativos para se anunciar no metrô é “ser visto por um público qualificado”.

Obviamente que esse material de publicidade da própria mídia não iria conter todos os pormenores de contratação e o REGULAMENTO PARA EXPLORAÇÃO DE MÍDIAS EM ÁREAS E EQUIPAMENTOS DE PROPRIEDADE DO METRÔ, DESTINADAS À REALIZAÇÃO DE AÇÕES PUBLICITÁRIAS MEDIANTE CREDENCIAMENTO – REMÍDIA existente no site da companhia traz em seu artigo 20: I- É expressamente proibido à Autorizada e a seus empregados ou prepostos: a veiculação de mensagens publicitárias que infrinjam a legislação vigente, atentem contra a moral e os bons costumes, possuam temas de cunho religioso ou político partidário, que possam prejudicar o desenvolvimento operacional do sistema metroviário ou a imagem da Companhia do Metrô e ou que possam suscitar comportamentos inadequados.

Durante este biênio 2013/2014, o cartel do metrô foi alvo constante de protestos protagonizados por black blocs cujas ações consistiram inclusive em colar adesivos obedecendo a mesma programação visual da companhia porém com o alerta “este trem foi superfaturado.” A retaliação estaria vindo agora em forma de censura? Ninguém no metrô quer responder.

Mas voltemos então ao regulamento e seu artigo 20. De que maneira o anúncio de um livro pode “prejudicar o desenvolvimento operacional do sistema metroviário”? Será por isso que aqueles monitores dentro dos vagões trazem apenas filmetes do gênero vídeo-cassetadas, horóscopo e resumo de novelas? A intenção é manter o público anestesiado? Por que não há nada de relevância informativa naquele espaço? E como não é uma obra pertencente a um partido político, nem de cunho religioso, só podemos entender que a razão da recusa tenha sido a moral e os bons costumes.

Mauro Donato

Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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