Não se deve subestimar o risco Bolsonaro, diz Guilherme Boulos

Atualizado em 3 de agosto de 2021 às 13:15
O mandatário levou o país no circo ao caos Foto: Reprodução/Twitter

Em artigo publicado na Folha, Guilherme Boulos falou sobre o risco Bolsonaro ao país. Disse que o centrão não tem capacidade para domá-lo e que é um erro imaginar que ele está se desgastando e vai chegar fragilizado em 2022.

Leia os principais trechos.

Bolsonaro está em sua pior situação: popularidade baixa, desemprego alto, volta da fome e uma condução criminosa da pandemia, alvo da CPI.

As mobilizações de rua voltaram e há mais de 120 pedidos de impeachment com o presidente da Câmara. Acuado, entregou os anéis ao centrão, com Ciro Nogueira na Casa Civil e um controle paroquial do Orçamento em proporções inéditas.

Mas, se essa operação for suficiente para neutralizar o impeachment e lhe dar governabilidade até 2022, Bolsonaro poderá ter força para conflagrar o país.

Seu pior momento tende a passar, não por méritos do governo, mas apesar dele.

Apesar do negacionismo bolsonarista, a enorme maioria da população brasileira deverá estar vacinada até o fim do ano. Isso tem consequências na retomada da atividade econômica.

Isso implicará em algum ganho de popularidade para Bolsonaro, devolvendo-lhe força política.

E é ilusão acreditar que o centrão, agora no núcleo duro de seu governo, irá “domá-lo”. Vem dos mesmos que acreditaram que Sergio Moro, Paulo Guedes ou os militares o fariam. Bolsonaro já atravessou o Rubicão.

Na live da última quinta-feira, dobrou a aposta na narrativa golpista do voto impresso. Não tem mais volta.

Mesmo nesse cenário, Bolsonaro não é favorito para a vitória nas urnas contra Lula. A questão é que, com a institucionalidade democrática esgarçada, no Brasil de hoje o debate toma outros contornos. Se Bolsonaro for capaz de manter sua base coesa e tiver uma votação expressiva, isso basta para incendiar o país ao não aceitar a derrota.

Ainda mais se contar com o apoio de setores das Forças Armadas, como sugere a movimentação do general Braga Netto e o papel do general Ramos na fatídica live do voto impresso.

Hoje, o golpismo de Bolsonaro é sinal de desespero.

Se a conjuntura se alinhar a seu favor, no ano que vem pode nos atirar no abismo.

Por isso é tão equivocada a tática de apenas desgastá-lo para que chegue fraco às eleições.

Supõe a crença ingênua de que estamos numa situação de normalidade.

A oposição precisa jogar todos os esforços para derrotá-lo ainda em 2021. Não é uma batalha fácil, mas pode ficar pior.