Categories: DestaquesPolítica

De esperança dos paneleiros a ‘arregão’, o fim do governo paralelo de Aécio Neves. Por Kiko Nogueira

Com os líderes do Vem Pra Rua no Congresso

 

Terminou de forma melancólica o governo paralelo de Aécio Neves. De grande esperança branca da oposição a “arregão”, foram cinco meses de fortes emoções.

Numa eleição apertada, Aécio cavou seu espaço na agenda nacional na marra. Sua cavalgada teve início com a não aceitação do resultado. Em sua volta ao Senado, em janeiro, Magno Malta, do Espírito Santo, uma das figuras mais grotescas de um Congresso grotesco, saudou-o num aparte sabujo: “Vossa Excelência recebeu um livramento”.

Vieram os protestos pelo impeachment. No primeiro, Aécio foi para a praia, para desespero de direitistas lelés como Lobão, que o aguardava na Paulista. Em março, deixou-se fotografar da janela do apartamento do Leblon numa camiseta da CBF. Sair na rua já era demais.

No último, sumiço total.

Como depositário dos desejos dos paneleiros, pediu pareceres a juristas, insuflando o deputado Carlos Sampaio, promotor e  carimbador maluco do PSDB. Recebeu na capital federal, em abril, diversos revoltados, entre eles Rogério Chequer, do Vem Pra Rua. Cobraram-lhe um posição firme.

“Então tenho a dizer, primeiro, que vamos atuar juntos sem preconceitos. E em segundo lugar quero dizer que nesse momento começamos a fazer história”, declarou Aécio, arrancando aplausos dos presentes.

Deu-se a sabatina de Luiz Edson Fachin, o demônio comunista polígamo abortista paranaense de bigode. Onde estava Aécio para desmascará-lo e impedir a bolivarianização definitiva do STF?

Em Nova York, com José Serra, homenageando FHC num evento organizado pelo lobista cansado mas muito animado João Doria Jr.

Enquanto isso, meia dúzia de manifestantes fieis a ele, inclusive pessoas que estiveram naquele encontro no Congresso, empreendiam uma marcha de São Paulo a Brasilia. Gastaram a sola do tênis, postaram vídeos fofos no YouTube e encheram o saco dos moradores de outras cidades — para quê?

Para descobrir que Aécio deu para trás. Nesta semana, depois de um parecer de Miguel Reale Júnior, ele admitiu que o impeachment “não é agenda para agora”.

Seus amigos das panelas não o perdoam. “Traidor”, “covarde”, “arregão”. O velho Batman do Leblon chorou. Num vídeo patético, que posto abaixo, os marchadores aparecem dizendo que o PT e o PSDB são “farinha do mesmo saco”.

Findo o mandato paralelo, rechaçado pelos corvos que alimentou, sem golpe à vista, resta a Aécio a dura realidade dos fatos. À direita, Ronaldo “Vou Chamar o Mujica” Caiado e Jair Bolsonaro adotam os paneleiros. No seu partido, a presença careca e cada vez mais incômoda de Geraldo Alckmin na corrida para 2018.

 

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Kiko Nogueira

Recent Posts

Conselho Tutelar procura 104 crianças após enchentes em Canoas (RS)

A cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, enfrenta uma crise com o desaparecimento…

20 minutos ago

STJ mantém dono de Porsche na cadeia por unanimidade

A 5ª turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o habeas corpus da defesa…

35 minutos ago

Avaliação sobre economia melhora e expectativa cresce em 2024, diz pesquisa

A avaliação dos brasileiros sobre a economia do país melhorou nos últimos meses, segundo pesquisa…

1 hora ago

Paes vai usar presença de bolsonaristas no show de Madonna contra Ramagem; entenda

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), vai usar a presença de bolsonaristas…

2 horas ago

Pesquisa Atlas: aprovação de Lula se recupera e volta ao patamar acima de 50%

O presidente Lula recuperou sua aprovação e voltou a um patamar acima de 50%, segundo…

2 horas ago

VÍDEO – Chuvas no RS podem forçar Brasil importar arroz e feijão, alerta Lula

As chuvas intensas que atingiram o Rio Grande do Sul podem resultar na necessidade de…

3 horas ago