A Câmara de Comércio Brasil-EUA pretende homenagear Bolsonaro como “Personalidade do Ano” em 14 de maio numa cerimônia no Museu de História Natural de Nova York.
Os ingressos — alguns a R$ 111 mil — já estão esgotados.
A recepção gerou um debate intenso na cidade, envolvendo o prefeito Bill de Blasio, que desancou Jair numa rádio.
O site Gothamist é que melhor está cobrindo a história de mais um vexame internacional de Bolsonaro, persona non grata onde quer que vá.
O Museu de História Natural dos Estados Unidos (AMNH) está enfrentando uma insurreição interna – e a ameaça de demissões e boicotes de funcionários – por sua recusa em cancelar uma festa de gala no mês que vem homenageando o presidente brasileiro Jair Bolsonaro. (…)
A revelação do papel do AMNH no evento provocou confusão e rápida condenação de brasileiros e nova-iorquinos.
O prefeito Bill de Blasio pediu ao museu – que recebeu mais de US$ 16 milhões em subvenções da cidade este ano – para cancelar, chamando evento e local de “uma contradição chocante”.
“Esse cara é um ser humano muito perigoso”, disse De Blasio durante uma entrevista (…). “Ele é perigoso não apenas por causa de seu racismo e homofobia, mas porque ele é, infelizmente, a pessoa com maior capacidade de impactar sobre o que acontece na Amazônia”.
Mas talvez em nenhum lugar a raiva tenha sido tão visceral e organizada como dentro do museu, onde os funcionários dizem que foram surpreendidos pelas notícias e agora estão furiosos com a diretoria da instituição.
“Meu queixo caiu quando descobri”, disse a dra. Susan Perkins, curadora e professora de microbiologia. “Tudo o que acontece no museu reflete sobre nós, e Bolsonaro representa praticamente tudo a que nos opomos: seu tratamento aos povos indígenas, seu desrespeito ao meio ambiente, seus pontos de vista e ações recentes para cortar a pesquisa científica. Achamos chocante que ele venha ao nosso espaço “.
Enquanto vários funcionários registraram sua indignação com o evento, o AMNH não está se mexendo por enquanto. Em uma declaração para Gothamist, um porta-voz descreveu a gala como um “evento externo, privado”, que não deve ser visto como um endosso das opiniões do líder. Esse porta-voz se recusou a dizer se o evento pode ser cancelado, apesar de o museu ter tuittado na quinta-feira que estava “explorando nossas alternativas”.
So that agribusinesses and mining interests can raze the Amazon. AMNH claims to care about biodiversity and climate change – they certainly employ scientists who study these things – but they'll take the money of people who would see the whole world burn to line their pockets.
— Bolsonaro Out of AMNH! (@maenads_dance) April 11, 2019
Enquanto isso, os diretores do museu estão lutando em particular para se distanciar da associação alegando ignorância sobre os detalhes da festa. Em um memorando enviado à equipe na tarde de quinta-feira, o reitor Michael Novacek e o vice-presidente de Recursos Humanos Daniel Scheiner disseram que “compartilham uma profunda preocupação” com a gala da Câmara de Comércio, observando que “foi reservada antes do homenageado específico ser anunciado”.
Em resposta, alguns funcionários apontaram que a escolha de Bolsonaro foi divulgada meses atrás – e abordada na imprensa brasileira em fevereiro – e sugeriu que a alta gerência do museu deveria estar ciente. (…)
Até a tarde de sexta-feira, funcionários dos departamentos científicos, de bibliotecas e de educação do museu estavam no processo de coordenar várias iniciativas para forçar o museu a desistir do evento. (…)
E, se não funcionarem, ativistas da organização Decolonize This Place contam ao Gothamist que não têm intenção de permitir que o evento ocorra sem perturbações. “Eles cancelam ou nós acabamos com a festa”, disse o organizador Amin Husein. “É simples assim.”
Em uma carta aberta dirigida à administração do AMNH, cientistas de museus e estudantes de pós-graduação do Richard Gilder Graduate Center estão exigindo que o evento seja cancelado, descrevendo-o como “uma mancha na reputação do museu”.
A carta continua citando a presidente do AMNH, Ellen Futter, que anteriormente escreveu que era o trabalho dos museus de história natural “documentar, proteger e celebrar o mundo natural” e oferecer pistas “sobre como podemos protegê-lo no futuro. “
A carta aberta conclui: “Uma das maneiras pelas quais podemos proteger o futuro das populações indígenas brasileiras, cientistas, cidadãos e esforços de bioconservação é recusar o acesso ao nosso lar institucional coletivo para o presidente fascista que preferiria ver esses povos e esforços destruídos”.
Count this oceanographer in! Unbelivable!
— Julius Busecke (@JuliusBusecke) April 12, 2019