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Em meio à tragédia da hiperlotação das cadeias, Doria quer prender pichadores. Por Kiko Nogueira

Doria apaga pichação

 

O prefeito de São Paulo, João Doria, o suplente de gari, declarou guerra aos pichadores.

Na segunda-feira, dia 16, ele parabenizou, através das redes sociais, a equipe da Guarda Civil Municipal “pela prisão dos pichadores que degradaram nosso patrimônio público”.

“Tolerância zero com vandalismo!”, disse.

Doria reverberou com orgulho o número de 28 pessoas detidas por praticar “atos criminosos” na Praça Roosevelt e na sede da prefeitura.

Mais tarde, como já virou praxe, foi desmentido por sua assessoria, que chamou a mentira de “equívoco”.

Em tom de ameaça, ordenou que esses monstros se tornem “artistas” para “receber orientação, apoio, material, recursos” e virarem “muralistas”.

Senão, cana.

O timing de Doria é sintomático de um populismo estúpido, cuja agenda é atender apenas os instintos básicos de seus eleitores sem enxergar nada além do imediato.

Doria quer enfiar no xadrez esses “perigosíssimos” jovens, fingindo que, com isso, resolverá a questão.

É um discurso especialmente perverso no momento em que o Brasil vive a tragédia das chacinas em presídios superlotados, fruto do que Ricardo Lewandowski chamou de “cultura do encarceramento”.

Houve um aumento na população carcerária de 267,32% nos últimos 14 anos, segundo o Ministério da Justiça e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), no relatório do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen).

Somos o quarto país com mais detentos no planeta. Todos os dias, ao menos 24 homens e mulheres são levados para a cadeia em São Paulo.

O maior motivo do inchaço se deve ao encarceramento ligado a crimes não violentos.

Você ganha um pirulito do Gilmar Mendes se adivinhar o que vai acontecer com os pichadores na cana, dadas as condições desses lugares.

O projeto de Doria é atender uma sede de vingança.

A guerra contra o pixo está perdida por razões óbvias — simplesmente não há como prender todos —, mas ele seguirá nessa toada até se licenciar para concorrer a governador.

Os pichadores que puser no xilindró estarão na conta dos paulistanos quando voltarem às ruas.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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