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Kleber Mendonça sobre Bacurau: “Não fiz um panfleto”

Os jornalistas Fernando Molica e Bruna Motta entrevistaram Kleber Mendonça Filho na Revista Veja.

(…)

O senhor reconhece em seu filme um tom panfletário, como parte dos críticos ressaltou? Certamente não vejo meu filme como um panfleto. Queria fazer uma história de ação, aventura, mas que também tratasse de questões que são cíclicas, crônicas no Brasil. Ponho na tela, por exemplo, a separação invisível e histórica entre Sul e Sudeste, de um lado, e o Nordeste, de outro. A desigualdade está retratada lá, assim como o problema do abastecimento de água, o político corrupto, os supremacistas brancos, o caminhão que despeja livros no meio da rua, o descaso com a educação. E hoje é assim: quem defende o básico, educação gratuita e de qualidade para todos, como eu, acaba sendo chamado de “esquerdopata”.

Alguns críticos também afirmaram que seu filme é simplista, exagerado na divisão entre o bem e o mal. O senhor concorda em algum grau com esses comentários? Bacurau é um western. Há vilões, há heróis, há enfrentamentos que podem ser violentos, uma cidade isolada, uma região árida. O filme é assim. Mas — e é isso que faz com que seja bom — é revestido das várias camadas que compõem a narrativa brasileira. De Asterix a Mad Max 2, de O Cavaleiro Solitário, de Clint Eastwood, a Kill Bill e Star Wars, todos usam a mesma estrutura clássica de vilões e heróis, dos que agem versus os que resistem. Acho que essa reação a Bacurau fala mais do observador que do filme.

As críticas o irritam? Cada um olha o filme como pode, e eu, que também já fui crítico de cinema, aprendi que, no fundo, eles escrevem sobre si mesmos. Como em qualquer área de atuação, há críticos de todos os graus de competência, os que eu admiro e os que desprezo, mas nunca rebati ninguém. Uma curiosidade: observei que só lá pela terceira semana em cartaz pensadores e escritores de direita descobriram Bacurau. Nessas críticas vejo certa falta de familiaridade com a ideia de um filme de gênero. De novo, um western.

(…)

Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: pedrozambarda@gmail.com

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Pedro Zambarda de Araujo

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