“Acabou o Consenso de Washington”, diz presidente do Eurasia Group
Do Globo
Para o presidente da consultoria americana Eurasia Group, Ian Bremmer, a receita neoliberal que ficou conhecida como Consenso de Washington – de privatizações, abertura comercial e Estado mínimo – não existe mais. Em entrevista por e-mail ao GLOBO, ele ressalta que a mudança pode ser vista até nos Estados Unidos, onde o lema de Donald Trump, “América primeiro”, dá lugar, na administração Joe Biden, a “Americanos primeiro”.
O papel do Estado, diz, vai crescer. Mas a questão da dívida em algum momento voltará a pesar, especialmente para as nações emergentes, quando as taxas de juros globais voltarem a subir. (…)
Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) fez um apelo para que os governos mantivessem políticas fiscais flexíveis e chegou mesmo a propor um “imposto solidário” sobre empresas e indivíduos que ganharam na pandemia, para ajudar os mais prejudicados pela crise. Essa nova abordagem veio para ficar? Pode ser o fim do Consenso de Washington?
Não há mais Consenso de Washington, à medida que os EUA passam de uma política de “América primeiro” para uma política de “Americanos primeiro”. Europeus e americanos continuam a discordar, especialmente pós-Brexit e, em breve, pós-Merkel.
A China continua a crescer, mas não está alinhada. O FMI, por sua vez, busca assegurar que a ajuda para a recuperação econômica não seja interrompida prematuramente e que haja uma retomada, no pós-pandemia, das políticas sustentáveis.
Eles vão continuar a apoiar a taxação global e a redistribuição progressivas… mas isso não ganhará força com os principais governos. (…)