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“Ali perdi meu pai”, afirma filho do governador eleito Witzel por participação dele em ato com placa destruída de Marielle

Reportagem de Gabriel Sabóia no UOL informa que a vida do cozinheiro Erick Witzel, 24, virou de cabeça para baixo há pouco mais de dois meses, quando o então candidato ao governo do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC) revelou em uma entrevista ser pai de um filho transgênero –apesar do pedido feito de antemão pelo jovem, para que o ex-juiz federal não tocasse no assunto durante a campanha eleitoral. “Eu não queria a minha imagem e a minha condição de gênero associadas às causas dele”, argumenta Erick. O filho de Witzel, que define a relação com o pai como “fria e distante até aquele momento, mas pacífica”, relatou em entrevista ao UOL a decisão de se afastar ainda mais do pai quando viu o então candidato em um ato de campanha em que uma homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL) foi destruída.

De acordo com a publicação, desde a entrevista em que Witzel citou o filho trans, Erick passou a conviver com ataques virtuais de supostos apoiadores do governador eleito. “Eu nunca disse ‘sou trans’ no meu trabalho, por exemplo, mas sempre fui respeitado. Daquela declaração até hoje, eu ‘ganhei um rosto’, um rótulo de filho trans do governador eleito. E não paro de receber ofensas e ameaças constantes no meu Instagram. Muitas vezes de perfis falsos que se dizem eleitores do meu pai, que falam que eu sou a vergonha da minha família, me mandam voltar para o armário, dizem que vão rir quando eu for parar no caixão”, conta o cozinheiro, que não falou mais com o pai e cogita formalizar uma denúncia na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática contra os agressores virtuais. Enquanto via os atos de transfobia aumentarem, o jovem formado em gastronomia também percebia à distância o endurecimento das propostas do pai, que se declarou alinhado politicamente ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e passou a defender o “abate” de criminosos que estejam portando fuzis. As intenções de votos em Wilson Witzel, que giravam em torno de 1% em agosto, saltaram para 59,87% dos votos totais no segundo turno –resultado que deu ao ex-juiz federal a vitória sobre o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) e fez dele o próximo governador do Rio de Janeiro.

“O Brasil não tem pena de morte, como se propõe executar alguém sem julgar esta pessoa? Quem vai morrer com essa política? O que me pega nessa declaração é a incoerência. Como um cristão, candidato por um partido cristão, propõe isso? E o princípio do “não matarás?”, questiona. Se àquela altura o jovem já se via distante dos ideais defendidos pelo pai, a participação de Witzel no ato no qual o deputado estadual eleito Rodrigo Amorim (PSL) exibiu uma placa destruída com o nome de Marielle gerou mais revolta. “Quando eu ainda tinha Facebook [hoje mantem só o Instagram], vi a foto do deputado destruindo a placa. Ainda não aparecia o Wilson na imagem [Erick só se refere ao governador eleito pelo nome]. Fui ao perfil dele e comecei a olhar a fotos do dia, investigando em que contexto aquilo tinha sido feito. Quando vi, o Wilson estava lá. Eles vibravam e cantavam”, descreveu, completa o Portal UOL.

“Sou a bandeira que eu represento. Levantar minha bandeira é me levantar”, diz Erick Witzel. Foto: Reprodução/Instagram