Como foi o governo de Shinzo Abe, ex-premiê do Japão que morreu após ser baleado

Foto por; Akio Kon/Bloomberg
O ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe, de 67 anos, morreu nesta sexta-feira (08/07). Ele foi baleado no peito e no pescoço. O ex-premiê japonês estava discursando perto da estação Yamato-Saidaiju, e caiu no chão.
Abe que já estava há oito anos no poder, deixou o cargo em setembro de 2021. Ele se tornou conhecido no exterior pela estratégia de recuperação econômica, conhecida como “abenomics”, na qual mesclava flexibilização monetária, grande reativação do orçamento e reformas estruturais. Foi o chefe de governo do Japão a ocupar o cargo por mais tempo. Seu sucessor – o 100º primeiro-ministro do país – é Fumio Kishida, ex-ministro das Relações Exteriores, eleito em outubro de 2021.
Ao renunciar, Abe alegou motivos de saúde. Ele sofre de colite ulcerativa crônica, uma doença que já o havia tirado do poder em uma outra ocasião, em 2007. “Eu me dediquei de corpo e alma à recuperação econômica e à diplomacia para proteger o interesse nacional do Japão todos os dias desde que retornamos ao poder”, disse Abe à época. Ele ainda dominava o partido que está no poder, o Partido Liberal Democrata (LDP), e controlava uma de suas principais alas.
Abe é de família política rica, com pai que foi ministro das Relações Exteriores. Ele foi preparado para seguir os passos de seu avô, o ex-primeiro-ministro Nobusuke Kishi, e se tornou o premiê mais jovem do Japão em 2006, aos 52 anos. Sua primeira passagem, porém, foi interrompida abruptamente por causa de seu problema de saúde.
Em agosto de 2021, bateu o recorde de longevidade no cargo de primeiro-ministro do Japão no mesmo mandato: 2.799 dias consecutivos. Ele já havia superado a marca em novembro do ano passado, mas contando sua primeira passagem à frente do país, muito mais efêmera (um ano entre 2006 e 2007). Sua retórica política frequentemente mencionava a necessidade de fazer com que o Japão tivesse um papel mais relevante nos assuntos internacionais.
Na última gestão, Shinzo Abe estabeleceu fortes laços com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e desagradou países próximos, como China, Coreia do Sul e Coreia do Norte, por conta do seu nacionalismo. A sua popularidade caiu e registrou o menor nível desde que retornou ao poder em 2012. Ele foi criticado por sua gestão na pandemia.
Abenomics
Abe se tornou conhecido no exterior pela estratégia de recuperação econômica, conhecida como “abenomics”, na qual mesclava flexibilização monetária, grande reativação do orçamento e reformas estruturais. Porém, sem reformas realmente ambiciosas, o programa registrou apenas êxitos parciais, ofuscados pela crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus. Mas mesmo diante da pandemia, manteve o Iene como moeda forte.
Abe também reforçou os gastos com defesa após anos de declínio, e expandiu a capacidade dos militares de projetar poder no exterior. Em uma mudança histórica em 2014, seu governo reinterpretou a constituição pacifista do pós-guerra para permitir que as tropas lutassem no exterior pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.
O ex-premiê foi fundamental para levar as Olimpíadas de 2020 para Tóquio, alimentando o desejo de presidir os Jogos, que foram adiados em um ano, para 2021, por causa da pandemia do COVID-19. O Japão é o terceiro país mais rico do mundo e o líder do governo tem o respeito e admiração dos seus pares.