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Cunha afirma que Joesley Batista foi “elemento fundamental para o impeachment” de Dilma

Brasília: O empresário Joesley Batista durante depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS e na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do BNDES sobre operações da empresa na tomada de empréstimos do BNDES (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Da Veja.

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Anos depois da saída de Dilma, a história vinculou os nomes de Cunha e Temer ao do empresário Joesley Batista, na fatídica gravação em que o então presidente diz “Tem que manter isso aí, viu?”, sobre as boas relações que o dono da JBS dizia ter com o ex-deputado, preso àquela altura. Em Tchau, Querida, esses personagens compõem uma espécie de tríplice aliança pela queda de Dilma. O ex-presidente da Câmara descreve Joesley como um elemento fundamental para o impeachment e deixa claro o nível de intimidade entre os dois. Com espantosa naturalidade, Cunha conta que consultou o amigo quando pretendia dar seguimento a uma CPI do BNDES, banco cujos cofres catapultaram as empresas de Joesley ao status de potências globais: “Quando eu estava para decidir, perguntei a Joesley Batista se ele tinha algum receio, para que eu tivesse ciência antes. Ele respondeu que não”. Apesar disso, prossegue o autor, a situação saiu do controle e Joesley acabou fustigado pela investigação. Cunha também relembra que o empresário tinha acesso ultrapreferencial ao ministro do STF Edson Fachin e atuou para emplacá-lo no tribunal, em 2015. Um ano depois da posse do ministro, assolado pelo pedido de afastamento da presidência da Câmara que sofria, o ex-de­putado recorreu a Joesley na esperança de que o empresário intercedesse a seu favor junto a Fachin. “Eu queria uma chance”, relembra Cunha. “Joesley combinaria com Fachin que ele julgaria em agosto a ação em plenário”, completa o autor, tentando ganhar tempo. Foi inútil. A pressão fez com que Cunha renunciasse à cadeira, em julho de 2016.

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Na fase em que Temer, ainda vice de Dilma, estava montando o que seria seu gabinete presidencial, Cunha diz que Joesley se empenhou agudamente para alçar Henrique Meirelles ao posto de Ministro da Fazenda do novo governo — na ocasião, Meirelles era presidente do Conselho Consultivo da J&F, o grupo do empresário. A nomeação, como se sabe, aconteceu. Cunha afirma que, em paralelo, o empresário convenceu Temer a, antes mesmo de assumir, fazer um movimento público para acalmar o mercado. “Ele estava particularmente preocupado com as suas posições do mercado de dólar futuro. Para evitar o aumento do prejuízo, ele gostaria de uma sinalização de Temer ao mercado — de que a política cambial não iria sofrer qualquer mudança.” De acordo com Cunha, mais adiante, Temer incumbiu Moreira Franco de dar uma entrevista para tranquilizar a Faria Lima, atendendo ao pleito (o que de fato acabou acontecendo). O livro expõe ainda que, em dado momento, Joesley confidenciou a Cunha que o governo petista havia lhe pedido dinheiro vivo para comprar deputados dispostos a votar para tirar Dilma do Planalto. “Ele me disse que, como já tinha escolhido o lado favorável ao impeachment, iria enrolar os interlocutores para não dar nada para eles”, afirma Cunha. Em sua delação premiada assinada em 2017, no curso da Lava-Jato, porém, o empresário confessou o financiamento de suborno de cinco parlamentares para tentar evitar a queda da presidente. Procurado por VEJA, Joesley disse que não comentaria “mentiras nem ilações fantasiosas” do autor.

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No livro, durante o processo de impeachment, o empresário aparece como anfitrião para uma série de encontros secretos. Cunha conta que ele abriu as portas de suas residências para que o ex-deputado se reunisse num dia com Jaques Wagner, em Brasília, e noutro com Lula, em São Paulo. A conversa com Wagner foi tensa. “Não iria sair na porrada física com ele, mas não estava certo de que aquilo acabaria bem”, escreve. Segundo Cunha, em outra ocasião, o ministro petista lhe ofereceu um cardápio de possibilidades para blindar Dilma, como proteção no Conselho de Ética e a chance de transformar Temer em ministro da Justiça. Não eram as primeiras ofertas, assegura Cunha. De acordo com ele, o integrante do governo Dilma que ele mais detestava, José Eduardo Cardozo, já havia acenado com a chance de o emedebista indicar um ministro do STF, a tomar posse após a aposentadoria de Marco Aurélio Mello. Em troca, Cunha seguraria a tramitação da chamada PEC da Bengala, o projeto que esticou até os 75 anos a idade de aposentadoria compulsória dos membros do Supremo. Se isso ocorresse, Dilma teria o poder de nomear cinco ministros em seu mandato. Cunha também sustenta que Cardozo interferia no trabalho da PF com o objetivo de pressioná-lo. A ojeriza por Cardozo chegou a tal ponto que, na tentativa do Planalto de conter o esgarçamento total das relações, Wagner passou a ser o interlocutor direto de Cunha, no lugar do ex-mi­nistro da Justiça. Não deu certo. “Wagner era só a troca da mosca; a merda continuava a mesma”, conclui Cunha. Cardozo nega as afirmações e rebate o desafeto: “As críticas e acusações do senhor Cunha soam como um elogio para o meu currículo. Todos sabem o que ele é e o que fez”. Jaques Wagner, hoje senador, garante que foi Cunha quem buscou a chantagem, pedindo apoio do partido no Conselho de Ética para rasgar o impeachment. Outro grande desafeto do ex-deputado, Rodrigo Janot, preferiu ser mais sucinto em seu comentário: “Não discuto com criminoso”.

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