Discurso anti-China de Bolsonaro causa apreensão sobre Brasil em Pequim

Da Reuters
O governo da China está tentando fazer as pazes com o candidato presidencial que lidera as pesquisas no Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), cuja retórica anti-China ameaça esfriar um relacionamento comercial lucrativo que vem beneficiando os dois países.
Diplomatas chineses em Brasília se encontraram duas vezes com alguns dos principais assessores de Bolsonaro nas últimas semanas, segundo participantes das reuniões. Sua meta é ressaltar a cooperação no maior país da América Latina, cujos grãos e minerais abasteceram a ascensão da China e tiraram milhões de brasileiros da pobreza no boom de commodities resultante.
Bolsonaro retratou a China, a maior parceira comercial do Brasil, como um predador que quer dominar setores cruciais da economia.
Como sua própria economia desacelera, a China não pode se dar o luxo de se envolver em mais uma guerra comercial custosa como a que irrompeu entre Pequim e Washington.
O comércio bilateral entre a China e o Brasil foi de 75 bilhões de dólares no ano passado, de acordo com estatísticas do governo brasileiro. Desde 2003 a China investiu bilhões de dólares nos setores de petróleo, mineração e energia do Brasil, e está disposta a financiar projetos de ferrovias, portos e outras modalidades de infraestrutura para acelerar as remessas de grãos brasileiros.
Mas Bolsonaro, à semelhança do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem criticado a China insistentemente em sua campanha, dizendo que os chineses não deveriam ter permissão de possuir terras brasileiras ou controlar indústrias essenciais. Nacionalista ardoroso, Bolsonaro tem grandes chances de vencer o segundo turno de domingo com larga vantagem.
“Os chineses não estão comprando no Brasil. Eles estão comprando o Brasil”, alertou Bolsonaro diversas vezes.
Entre as empresas na alça de mira está a China Molybdenum, que comprou uma mina de nióbio de 1,7 bilhão de dólares em 2016. Segundo Bolsonaro, o próprio Brasil deveria desenvolver o empreendimento.
O nióbio é usado como um aditivo ao aço para tornar o metal mais forte e mais leve. A demanda pelo nióbio está em alta por montadoras, empresas aeroespaciais e uma série de outras indústrias.
O Brasil controla cerca de 85 por cento do suprimento mundial, e Bolsonaro quer que sua nação colha os benefícios.
Bolsonaro também já registrou sua oposição à privatização planejada de alguns ativos da estatal Eletrobras devido ao temor de que compradores chineses deem os maiores lances.
Autoridades da China Molybdenum não quiseram comentar, mas seis executivos de alto escalão de empresas chinesas que operam no Brasil disseram à Reuters que estão acompanhando os comentários do capitão da reserva com graus variados de inquietação.
“Estamos um pouco preocupados com suas opiniões extremas”, disse um executivo chinês de infraestrutura à Reuters.
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