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Haddad sobre Bolsonaro: “tucanos talvez não tenham compreendido a natureza do bicho que ajudaram a eleger”

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Fernando Haddad abordou o processo que colocou Jair Bolsonaro na presidência em sua coluna na Folha de S.Paulo, além da necessidade dos progressistas de conter essa onda obscurantista. “Mensagens atribuídas a Sergio Moro não deixam dúvidas do caráter das escolhas que o juiz fazia ao longo da Operação Lava Jato para circunscrever ilegalmente seu alcance político-partidário. Tratava-se de consolidar novo bloco de poder representado pela aliança MDB-PSDB que, retomado o crescimento econômico, seria ungido pelo voto nas eleições de 2018. As fotos em que Moro aparece sorridente em conversas animadas com Michel Temer e Aécio Neves só se tornaram constrangedoras depois da reviravolta promovida por Joesley Batista ao divulgar gravações de conversas reveladoras. Nulas as chances de manutenção daquele bloco, Alckmin ainda conseguiu operar a coesão do conservadorismo, excluindo o MDB. Apresentou-se como candidato presidencial da maior coalizão de 2018. Veio a facada que feriu de morte suas pretensões. Já o sobrevivente, no leito hospitalar, disse a um dos seus padrinhos, o empresário Paulo Marinho: ‘Agora não precisa fazer mais nada’. Esse seu lema de uma vida inteira o tinha colocado, vivo, às portas do Planalto”.

O professor desenvolve o raciocínio: “Recentemente, o mesmo Paulo Marinho fez um movimento contrário ao de Moro. Enquanto este embarcou na canoa do capitão, tentando escalar-lhe os ombros, aquele tomou outro rumo: ‘A candidatura do capitão foi um atalho para derrotar o PT; feito isso, voltei para a origem do meu projeto politico, que é ajudar o João Doria'”.

E frisa: “Guedes, portador de uma agenda selvagem na economia, que agradava a elite e para a qual tinha convertido o capitão, tomava-o como animal domesticável quanto ao resto. O verniz que sempre encobriu a violência da nossa sociedade, tido como indispensável, viria com o tempo. ‘Amansa o cara!’, bradava”.

E conclui: “Os tucanos talvez não tenham compreendido a natureza do bicho que ajudaram a eleger. O obscurantismo de Bolsonaro é o necessário complemento espiritual do projeto ultraneoliberal que se desdobra no plano material. Um país tão desigual quanto o nosso que vê em mais desigualdade a chave da sua recuperação exige um ethos regressivo. Que só a unidade progressista poderá conter”.