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Mangabeira Unger: “maiores lideranças das Forças Armadas emprestam seu prestígio a governo que deixa o Brasil indefeso”

Jair Bolsonaro e os militares. Foto: AFP

O professor de Harvard Mangabera Unger fez uma crítica na Folha de S.Paulo ao governo Bolsonaro sobre sua abordagem com as Forças Armadas. “A Defesa do Brasil está abandonada. O gasto na Defesa, medido como participação no PIB, cai desde 1995, com apenas dois momentos de recuperação —em 2001 e de 2008 a 2010. Os gráficos que demonstram, nesses últimos 25 anos, as participações da despesa primária da União e da Defesa no PIB revelam curvas inversas. Aquela só sobe. Esta desaba. Nosso gasto em Defesa caiu a 1,4% do PIB, comparável à Argentina, que, com suas Forças Armadas destroçadas, gasta 1,3%, e inferior ao Chile, que gasta perto de 1,9% —ou, para tomar o exemplo de outro país continental em desenvolvimento, à Índia, que gasta 2,4%. O mais grave é o descompasso entre o aumento, de ano a ano, do gasto em pessoal e a queda do investimento, que, para 2019, ameaça ser substancialmente menor, em termos tanto absolutos como relativos, do que foi, depois de anos de estagnação, em 2018”.

Ele desenvolve o raciocínio: “As Forças lutam, como sempre fizeram em períodos de aperto, para preservar a formação dos oficiais e os projetos mais importantes. Estão perdendo a batalha. Quase ninguém protesta. Isso ocorre sob o governo com maior presença de militares em nossa história: maior do que nos governos do regime militar. Rompeu-se, de ambos os lados, o contrato implícito na Estratégia Nacional de Defesa. Os militares ganharam o Ministério da Defesa. A Defesa ficou ao relento. Soldo e pensão de militar são o que se discute. Esquecida em tudo o que importa, a Defesa virou, com o lançamento das escolas cívico-militares passadistas, incidente nas guerras culturais a que se dedica o governo Jair Bolsonaro (PSL)”.

E completa: “Algumas das maiores lideranças das Forças Armadas, patriotas que dedicaram suas vidas à nação, emprestam seu prestígio a governo que deixa o Brasil indefeso, alardeia submissão aos Estados Unidos e renuncia a qualquer estratégia nacional de desenvolvimento que não se resuma a agradar os mercados financeiros. O Brasil afunda na estagnação e na mediocridade. Levante-se, povo brasileiro, para opor-se a esse plano contra a pátria. Assuma a tarefa sacrossanta de resguardar o Brasil”.