“Estou completamente perplexa”, diz diretora de “O Processo” sobre uso de seu filme em fake news de Bolsonaro

Atualizado em 13 de julho de 2019 às 21:48

 

Poster do documentário “O Processo”. Foto: Divulgação

A cineasta Maria Augusta Ramos, diretora do documentário “O Processo”, foi pega de surpresa na tarde deste sábado (13) com uma postagem no Twitter do presidente Jair Bolsonaro, que fez uso não autorizado de um trecho de sua obra.

O ex-capitão pegou uma cena do filme de Maria Augusta, que denuncia as ilegalidades cometidas durante o processo de impeachement da ex-presidenta Dilma Rousseff, e que já ganhou prêmios em festivais na Suíça, em Berlim, em Madri e em Lisboa, e afirmou se tratar de imagens vazadas de uma reunião interna do Partido dos Trabalhadores, que mostrariam como a legenda é inimiga do país e busca atuar contra a nação no Foro de São Paulo.

Ainda em dificuldades para compreender e processar o que fez o presidente da República com sua obra, a cineasta falou com o DCM no início da noite deste sábado. Ela disse que está chocada não apenas com o grau de desrespeito por parte do presidente, que deturpou completamente o sentido do que seu filme exibe, mas também com o tamanho da desinformação que acomete a Jair Bolsonaro, que desconhece um material cinematográfico, e mostra não ter ideia do que se trata um dos filmes brasileiros mais premiados dos últimos anos.

Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista e, ao final, o tuíte de Bolsonaro usando a obra de Maria Augusta para construir uma fake news.

DCM – A senhora aprova o uso de trecho de seu filme que foi dado pelo presidente Bolsonaro em sua conta de Twitter?

Maria Augusta Ramos – Eu desaprovo. Na realidade, estou completamente perplexa e indignada com o fato de o presidente da República ter feito algo absolutamente ilegal, ferindo nossos direitos autorais, tirando de contexto o fragmento de um filme e deturpando totalmente seu significado.

DCM – A senhora pretende tomar alguma medida para reverter a situação?

Maria Augusta Ramos – Certamente iremos pedir para o Twitter tirar este conteúdo do ar o quanto antes. Possíveis demais medidas em outras esferas nós iremos estudar, junto com a produtora, com os detentores dos direitos autorais do filme. Por enquanto, ainda estou em estado de perplexidade.

DCM – A forma como ele utilizou o trecho do seu filme, foi para dizer que o PT…

Maria Augusta Ramos (interrompendo) – A forma foi dando um significado mentiroso àquele trecho! Exatamente porque todo o filme, o documentário, só o que faz é retratar, refletir, e certamente denunciar um processo inconstitucional (impeachment de Dilma) que gerou tudo isso que estamos vendo, essa realidade absolutamente sombria que estamos vivendo, da qual ele faz parte.

Então, chega a ser irônico que ele tenha usado justamente este filme para expressar suas ideias absolutamente violentas, deturpando por completo o fragmento, que, no caso, é um depoimento corajoso e importantíssimo do ex-ministro Gilberto Carvalho.

Mas, essa atitude é coerente com tudo que este presidente e este governo vêm fazendo desde que assumiram, de total desrespeito e negligência à classe artística, ao cinema, aos museus, à Cultura de um modo geral.