Categories: DestaquesMídia

Ideia de um jornal italiano para os daqui: economizar com extremistas como Fiúza e dar “Mein Kampf” de brinde. Por Kiko Nogueira

O brinde do irmão de Berlusconi: economizando Fiúza

 

O italiano Il Giornale, cujo proprietário é Paolo Berlusconi, irmão de Silvio, está no centro de uma iniciativa que deve ser, em breve, imitada por aqui.

A edição de sábado contou com a distribuição gratuita de uma cópia anotada de “Mein Kampf”, de Hitler. O primeiro ministro, Matteo Renzi, se manifestou no Twitter: “Considero sórdido que um diário italiano presenteie o ‘Mein Kampf’. Meu abraço afetuoso na comunidade judaica”.

A alegação do jornal é que isso serve para conhecer o passado para poder rejeitá-lo, blábláblá — quando o que se sabe é que tudo gira em torno de uma estratégia de marketing para tentar vender mais.

Mais sete livros serão dados numa série sobre o Terceiro Reich. Hitler escreveu “Minha Luta” quando esteve detido nos anos 20. Foi lançado oito anos antes de ele subiu ao poder. É autobiográfico, mas contém as bases do nazismo. Está tudo lá.

Alguns criticaram o momento oportunista usado pelo Giornale, em que a xenofobia e a extrema direita crescem na Europa. “Você estão economizando com jornalistas direitistas”, escreveu um sujeito no Twitter.

Faz um certo sentido. No Brasil, a história deve se repetir.

Com a crise na imprensa, o Estadão, por exemplo, economizaria em editorialistas xingando adversários de “tigrada” e “matilha” — expediente clássico dos nazistas, a desumanização do inimigo — encartando o difamador original.

Quem precisa do pensamento único de um Guilherme Fiúza, com seu fanatismo macartista, a lentidão lexotan de raciocínio, mandando correspondentes estrangeiros para a Venezuela, acusando o New York Times de ser vendido, se pode ter Hitler deblaterando contra os estrangeiros usurpadores da pátria?

Durante 70 anos, a Baviera foi dona dos direitos autorais e proibiu a publicação da obra por respeito às vítimas e para evitar o incitamento ao ódio. Cópias circulavam na internet. No dia 1º de janeiro de 2016, “Minha Luta” caiu no domínio público. Agora é tudo legal, com comentários de historiadores.

A polêmica está garantida, mas, com o constrangimento que causa, gente como Fiúza sai muito, muito mais caro.

 

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Kiko Nogueira

Recent Posts

Cazuza, Renato Russo e mais: Madonna homenageia artistas mortos pela AIDS

Durante sua apresentação na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, na noite deste sábado…

7 horas ago

Uma figura fora de esquadro. Por Moisés Mendes

Eduardo Leite é, na história da política gaúcha, uma das figuras públicas mais deslocadas do…

7 horas ago

Número de mortos pelas chuvas no Rio Grande do Sul chega 55

O saldo de vítimas fatais das intensas chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul…

8 horas ago

Forças Armadas fizeram mais de 10 mil resgates aéreos no RS

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e os ministros Paulo Pimenta (Secretaria…

10 horas ago

Há 1 mês, Leite flexibilizou regras ambientais em áreas de proteção de águas

Em abril deste ano, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), sancionou…

11 horas ago

Com 50 mil em áreas de risco, Canoas ordena evacuação de 11 bairros

“Este é o episódio mais trágico da história de Canoas. Uma situação além da nossa…

11 horas ago