Já está passando da hora de pedirmos — todos nós — desculpas a Dilma. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 17 de maio de 2017 às 22:43
No Senado
No Senado

Este texto está sendo republicado por motivos óbvios.

Se eu escrever cem vezes desculpas para Dilma em nome dos brasileiros, ainda assim vai ser pouco.

A cada lista de delatados que emerge, maior é o tamanho do crime político que cometemos contra Dilma.

Relembre aquelas cenas infames de corruptos das duas casas do Congresso vociferando contra Dilma em nome da “honradez”, dos “elevados princípios morais” etc etc.

Todos eles, em tempo recorde, foram desmascarados. Não sem antes chacinar uma mulher honesta e, com ela, 54 milhões de votos.

Aquelas cenas, se antes davam raiva, agora dão nojo.

Jamais se apagarão da memória de horrores políticos nacionais aqueles momentos em que um gânguester do naipe de de Eduardo Cunha comandava a destituição de Dilma.

E os deputados corruptos que em série pronunciavam o fora Dilma pelos filhos, filhas, noras e o que mais fosse?

Um dia alguém haverá de selecionar as palavras mais cínicas e mostrar o que se descobriu sobre os autores. (No dia seguinte ao da sessão final do impeachment, o marido de uma deputada ensandecida foi posto num camburação por roubalheita.)

Como esquecer, no Senado, Aécio, o Mineirinho, despejando sobre Dilma todas aquelas acusações de trampolinagem que na realidade ele mesmo cometeu? E Cássio Cunha Lima? E Juca?

Dilma foi sacrificada para que a escumalha da política brasileira pudesse ser varrida.

E a triste verdade é que não fizemos nada para ajudá-la no bom combate que ela estava travando.

A esquerda estava mais interessada em criticá-la por alegados erros no segundo mandato do que em ajudá-la a enfrentar a selvagem plutocracia nacional.

Que Dilma poderia fazer tendo Temer ao lado, Cunha em suas costas, Aécio tramando desvairadamente e a mídia boicotando-a com sede assassina?

Um governo é, sob vários aspectos, como uma empresa. Que empresa funcionaria mesmo que tivesse no comando Steve Jobs se todos os executivos estivessem contra ele, e ele não possuísse poderes para demiti-los?

Com nossa omissão, ajudamos a empurrar Dilma para o abismo.

É uma culpa que levaremos para sempre.