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Ministros como Alexandre de Morais só são possíveis num país governado por golpistas. Por Carlos Fernandes

Almas gêmeas

A Lava Jato subiu de vez nos palanques políticos do PSDB. Se alguém ainda tinha alguma dúvida da partidarização da operação que vem trucidando direitos constitucionais e jogando o país inteiro nos primórdios do obscurantismo, o atual ministro da Justiça, Alexandre de Morais, tratou de pôr fim às especulações.

Neste domingo (26), em pleno comício de Duarte Ribeiro, candidato PSDBista à prefeitura de Ribeirão Preto, Morais, num discurso empolgado, antecipou a plenos pulmões o que deveria ser mais uma operação sigilosa da Polícia Federal.

Que vazamentos seletivos à mídia condescendente foram uma regra ininterrupta durante todo o decurso da Lava Jato, sabemos todos. A novidade agora é que nos dias que antecedem o primeiro turno das eleições municipais, as aparências foram jogadas às favas e todo o aparato institucional ligado ao Ministério da Justiça – e não só a ele – serve abertamente a um propósito exclusivamente político.

É bem verdade que na prática o que Alexandre de Morais fez não é algo muito diferente do que o juiz Sérgio Moro já há muito tempo faz ao ser figurinha carimbada em eventos patrocinados por políticos do PSDB como João Dória ou a escandalosa antecipação em redes sociais que o editor da revista IstoÉ, Diego Escosteguy, fez quando a PF sequestrou o ex-presidente Lula através de uma igualmente escandalosa condução coercitiva.

O que torna o episódio ainda mais infame é a constatação clara de que o Ministério da Justiça, com a importância e o significado que lhes são peculiares, foi entregue a um sujeito que mais do que ser incapaz de separar as suas posições políticas pessoais do seu dever republicano e constitucional enquanto ministro de Estado, opera descaradamente para que a lei sirva não ao combate das injustiças, mas exatamente em prol de sua proliferação.

E o que é pior – porque sempre pode ser pior – é que a incompetência, o descaso com as regras democráticas, o autoritarismo e a falta de diálogo que se vê presente no Ministério da Justiça são igualmente compartilhados por todos os outros ministérios desde que o golpe de Estado foi homologado pelo Congresso Nacional.

O desmonte da educação brasileira, o desmantelamento das leis trabalhistas, os retrocesso nos direitos sociais e o retorno da subserviência econômica ao capital externo caminham paralelos à definitiva politização do sistema judiciário brasileiro.

Cada qual em sua área, a equipe ministerial formada por um presidente sem um único voto, trabalha incansavelmente para que o Brasil dos anos 70 volte a ser uma triste realidade no cotidiano de milhões de brasileiros que mesmo após duas décadas de ditadura militar ainda não aprenderam o verdadeiro valor da democracia.

Ministros como Alexandre de Morais só são possíveis em países que possuem juízes como Sérgio Moro, Procuradores como Deltan Dallagnol, membros da mais alta corte como Gilmar Mendes, presidentes do Parlamento como Eduardo Cunha e presidentes da República como Michel Temer.

Em suma, ministros como Alexandre de Morais só são possíveis em países que são governados por golpistas.

Carlos Fernandes

Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina

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