O texto abaixo foi escrito por Miruna Genoino.
Meu pai sofreu uma isquemia cerebral transitória (ou o conhecido AVC) em agosto, quando se recuperava da cirurgia do coração e desde então vem sendo tratado com alimentação rigidamente controlada e medicação.
Meu pai precisa ter sempre o índice de coagulação entre 2 e 3.
Quando foi levado para o presídio a primeira vez, saiu de lá com o índice de coagulação em 5,6. Quase com hemorragia.
Agora foi mandado novamente para a prisão e obteve nessa semana um resultado GRAVE e PREOCUPANTE: 1,06. Alto risco de um novo AVC.
Hoje, na visita, depois de serem revistados de cima para baixo, depois da enorme fila, tensão e ansiedade, minha mãe e meus irmãos não puderam entregar as cartas que eu escrevo diariamente para meu pai. “Temos que ler”. Livros, nenhum. “Só religiosos”. Hoje, não puderam nem mesmo entregar alimentos PRESCRITOS pelo médico e pela nutricionista. Hoje, o desenho que meu filho fez para o avô só entrou depois que foi esquadrinhado e muito bem explicado. “Ele é meu sobrinho. (e é o quê dele?) É o neto. (e o que é isso?). É um desenho. Um avião”.
Por que estão fazendo isso com meu pai? Ele não vai mais se candidatar a nada, saiu da vida política, já foi condenado, já mancharam a sua história política, por que isso também? Por que a sua vida, a sua saúde?
Eu não quero um herói, não quero um mártir, nem um símbolo. Eu quero meu pai vivo. Eu quero ter um pai, quero que meus filhos tenham o avô. E quero sobreviver a tudo isso de alguma forma, ainda sem saber ao certo como.