O dia em que a Ucrânia deu uma lição ao mundo

O deputado Vitali Zhuravski

 

Descontentes com a atuação de seu representante na sessão que aprovou o acordo com a União Européia, manifestantes pegaram o deputado Vitali Zhuravski e jogaram-no numa caçamba de lixo. Deram-lhe o tratamento que consideravam coerente. Lugar de lixo é no lixo.

Não vamos entrar na questão da crise ucraniana, mas na reação dos populares contra um representante que não correspondeu com seu objetivo-fim: não os representou. É uma atitude extrema e nada civilizada? Talvez, mas não deixa dúvidas com relação a postura de acompanhamento dos passos de um político por parte de seu eleitorado.

Por aqui, em tempos de eleição, vêem-se discursos e posts desejosos por mudanças, rupturas com tudo que é anacrônico nas inflamadas conversas de bar. Porém, sempre há um maldito porém.

Focados exclusivamente na disputa e pesquisas do IBOPE, Datafolha e afins para presidente da república, a população deveria voltar os olhos para a pesquisa IBOPE referente à intenção de votos para deputados. É um retrato da contradição entre o que se deseja lá na frente e como se vota na base.

Em São Paulo, os cinco primeiros colocados são Tiririca (PR), Celso Russomanno (PRB), Paulo Maluf (PP), Baleia Rossi (PMDB) e Pastor Marco Feliciano (PSC). No Rio de Janeiro, Clarissa Garotinho (PR) vem em primeiro lugar e Jair Bolsonaro (PP) em segundo. Pare aqui e leia a lista novamente.

Representantes de tudo que há de mais ultrapassado ou até mesmo representantes do niilismo (o que representa Tiririca?), esses são os políticos que lideram a corrida.

A chamada “casa do povo” brasileiro, a Câmara dos Deputados precisa estar a serviço da sociedade brasileira e viabilizar a realização dos anseios do povo. Discute e aprova propostas referentes à educação, saúde, transporte, habitação. O que não passar por ali nem chega ao senado.

O que então explica que discursos progressistas em bocas de presidenciáveis alavanquem votos mas os discursos reacionários nos palanques de candidatos a deputados também? A única resposta que encontro é a desinformação política.

Querem que os direitos homoafetivos sejam defendidos pelo(a) presidente mas votarão em Feliciano? Desejam a desmilitarização mas querem ver Bolsonaro lá? É um misto de despolitização com desinformação, ignoram o trâmite entre os poderes. Não associam uma coisa à outra e esperam resultados homogêneos. Loucura.

Sinceramente, no exemplo ucraniano não enxerguei excesso de violência e sim um gesto altamente simbólico e que dispensa explicações. Se o deputado não tiver entendido o recado nada o fará entender.

A diferença para estas bandas é que o povo, ao votar da maneira que o faz, se por aqui repetisse a modalidade de arremesso de deputados ao lixo, estaria sim cometendo um ato de agressão pois foi o responsável pelo “representante” estar lá. Aliás alguém se lembra em qual deputado votou passados dois ou três meses das eleições?

Repito, não se trata de apoiar os fascistas ucranianos (que parecem ter sido os ativistas que depositaram o deputado no lixo). Igualmente não incentivo nem concordo com linchamentos.

Mas não considerei essa reação violenta. Ela foi de um simbolismo didático.

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Mauro Donato

Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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