Os buracos na história de Míriam Leitão sobre a “violência verbal” que sofreu num avião. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 19 de julho de 2019 às 22:23
Míriam Leitão

 

Míriam Leitão merece toda a solidariedade pela agressão que, segundo ela conta em sua coluna, sofreu num voo da Avianca.

Isto posto, há alguns buracos em sua narrativa que merecem elucidação.

Ela afirma que foi vítima de “um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT”.

“Foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra a TV Globo. Não eram jovens militantes, eram homens e mulheres representantes partidários. Alguns já em seus cinquenta anos. Fui ameaçada, tive meu nome achincalhado e fui acusada de ter defendido posições que não defendo”, descreve.

O fato se deu em 3 de junho num avião que ia de de Brasilia para o Rio de Janeiro. Ou seja, Míriam levou dez dias para expôr o ocorrido.

Por quê?

“Foram muitas as ofensas, e, nos momentos de maior tensão, alguns levantavam o celular esperando a reação que eu não tive. Houve um gesto de tão baixo nível que prefiro nem relatar aqui. Calculavam que eu perderia o autocontrole. Não filmei porque isso seria visto como provocação. Permaneci em silêncio. Alguns, ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre outras grosserias”.

Um linchamento estava a caminho, mais que um escracho.

Diante de um fato de tamanha gravidade, por que não lavrou um boletim de ocorrência ali mesmo no aeroporto? Por que não filmou os agressores?

Miriam atesta que eram “delegados do PT” e “profissionais do partido”.

Como ela sabe disso? Portavam crachá? Através das roupas deles? Dos óculos? Das feições lombrosianas?

Os agressores, de acordo com ML, eram também ignorantes contumazes.

“Ameaçaram atacar fisicamente a emissora, mostrando desconhecimento histórico mínimo: ‘quando eles mataram Getúlio o povo foi lá e quebrou a Globo’, berrou um deles. Ela foi fundada onze anos depois do suicídio de Vargas”, afirma.

Ora. O Globo estava na ativa há 29 anos em 1954. Carros do jornal foram destruídos quando da morte de Getúlio e a redação foi atacada.

No Facebook, um advogado ligado ao PT, que se declarou presente no avião, desmentiu a colunista.

“Eu estava no vôo e ninguém lhe dirigiu diretamente a palavra, justamente para você não se vitimizar e tentar caracterizar uma injúria ou qualquer outro crime”, relatou Rodrigo Mondego.

“O que houve foram alguns poucos momentos de manifestação pacífica contra principalmente a empresa que a senhora trabalha e o que ela fez com o país. A senhora mente também ao dizer que isso durou as duas horas de vôo, ocorreu apenas antes da decolagem e no momento do pouso. Se a carapuça serviu com os gritos de ‘golpista’, era só não ter apoiado a ação orquestrada por Eduardo Cunha e companhia, simples”.

Tudo indica que foi um esculacho. Míriam não ajudou a esclarecer. Talvez porque não interesse.

Assim como ficou nebuloso o “escândalo” da alteração de seu perfil na Wikipedia pelo “Planalto”, sobre o qual meu irmão Paulo escreveu. Uma patacoada tratada como Watergate.

Ela parece incomodada com o papel de porta voz da emissora. É uma posição horrenda, mas é difícil crer que não tenha ideia do quanto a empresa onde trabalha é odiada.

É impossível excluir o protagonismo da Globo na venezuelização do Brasil. Míriam, infelizmente, é a cara do grupo. Poucos, ali, traduzem melhor do que ela as ideias dos Marinhos. 

De novo: Míriam Leitão merece cada palavra solidária que está recebendo pelo que passou — a mesma solidariedade que ela jamais prestou quando as vítimas estavam do lado de lá.

Falta, porém, explicar direito. A luz do sol ainda é o melhor detergente.