Parlamentares denunciam campanha de Bolsonaro: vai provocar lotação em cemitérios e crematórios

Atualizado em 28 de março de 2020 às 9:05
Caixão com vítima fatal do coronavírus.

A campanha publicitária do Governo Federal para defender a tese do isolamento vertical foi um dos assuntos mais comentados desta sexta-feira (27) entre os congressistas. Orçada em R$ 4,9 milhões – com o slogan “O Brasil Não Pode Parar” –, as peças que vêm sendo veiculadas desde a noite de quinta nas redes sociais defendem a volta à normalidade para milhões de trabalhadores brasileiros em pleno crescimento da pandemia da Covid-19. A orientação vai contra as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Mencionado por muitos, o número de mortos na Itália foi apontado como a principal consequência do fim das regras do isolamento. Parlamentares de diferentes partidos lembraram que, para não desacelerar a economia, o Governo chegou a adotar o fim da quarentena, o que levou à duplicação no número de óbitos, alcançando os 9 mil mortos nesta sexta.

“Na Itália, há um mês decidiram que a economia não podia parar. Hoje, está com a economia parada e empilhando corpos. Fique em casa!”, pediu o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA).

‘Enquanto Milão lamenta ter feito no passado o que Bolsonaro quer fazer no Brasil, e o mundo inteiro se prepara com quarentenas, o asqueroso ex-deputado justifica seu descaso com o povo de forma sórdida: o brasileiro estaria, segundo ele, acostumado a mergulhar no esgoto”, comentou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), recordando a fala da última quinta, em que Bolsonaro diz que o brasileiro “tem que ser estudado”, pois pula “no esgoto e nada acontece com ele”.

Recordando a aprovação do projeto que aprovou o pagamento de bolsas emergenciais a trabalhadores autônomos, Margarida Salomão (PT-MG) lembrou o que representa o montante pago pela campanha . “Bolsonaro insiste em dizer para as pessoas voltarem ao trabalho, contrariando todos os especialistas em saúde, e gastou R$4,9 milhões com propaganda enganosa. Valor suficiente para pagar o Auxílio Emergencial para 4 mil famílias”.

Henrique Fontana(PT-RS) foi mais um parlamentar a criticar duramente as medidas recomendadas pelo Governo. “A inoperância de Jair Bolsonaro faz com que a epidemia cresça mais do que deveria no Brasil. Não há um plano claro de como serão as expansões de UTI, faltam testes. E diante de tudo isso, Bolsonaro desrespeita as orientações da OMS e pede para que as pessoas não fiquem no isolamento social”, criticou.

Presidente do PSB, Carlos Siqueira, anunciou como medida a denúncia da campanha ao Tribunal de Contas da União (TCU), chamando-a de “inconsequência”. “É inconsequência do governo a campanha ‘O Brasil não pode parar”, que defende o isolamento social somente para idosos e grupos de risco na pandemia do coronavírus. O PSB pediu ao TCU para proibir a veiculação do material, com despesa irregular de R$ 4,9 milhões”, declarou.

Já Felipe Carreras (PSB-PE) criticou a politização do tema. “Que momento estamos vivendo! Tem um pessoal que é fanático mesmo. É feito torcedor de time. Considero Bozomaníacos. Não tem outra classificação. Gente, estão dizendo agora que o Diretor Geral da OMS é de esquerda. Estão politizando até isso”, declarou, replicando a manchete com a declaração de Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Deputados do PSOL, Sâmia Bonfim (SP) e Edmilson Rodrigues (PA) aproveitaram a audiência das redes para anunciar a medida adotada pelo Partido, junto ao Ministério Público Federal, para impedir a divulgação da campanha.

“A nossa bancada de deputados federais do PSOL acionou o MPF contra a propaganda negacionista do governo de Bolsonaro, em meio a pandemia do coronavírus. É criminosa a atual propaganda da Secom que diz “O Brasil não pode parar” contrariando as recomendações do OMS”, disse Rodrigues.

“A propaganda paga com dinheiro público para estimular os brasileiros a saírem de suas casas e arriscarem suas vidas em meio à epidemia de coronavírus é um atentado contra a saúde pública e a integridade do nosso povo. Acionamos o MPF para que apure o caso”, reafirmou Sâmia.

Líder do PSOL, Fernanda Melchionna (RS) puxou o coro de uma nova hashtag, no Twitter. “O líder da ignorância ultrapassa novamente os limites: Bolsonaro agora toca campanha milionária, sem licitação, para incentivar os brasileiros a voltar à normalidade. Pela vida do povo, #OBrasilTemQuePararBolsonaro”.

Colega de partido, Marcelo Freixo (PSOL-RJ) usou as redes para comunicar uma ação protocolada junto ao Ministério Público Federal (MPF) para tentar barrar a veiculação das mensagens. “URGENTE! Os deputados federais do PSOL acionaram o MPF contra a propaganda criminosa do governo Bolsonaro, feita sem licitação, que coloca em risco a vida de milhões brasileiros. Não escute os terraplanistas, proteja-se, fique em casa!”, pediu.

Estados

Mais cedo, secretários estaduais de saúde acusaram o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, de ceder às pressões políticas de Jair Bolsonaro e pedir a flexibilização das regras de isolamento.

E em São Paulo, durante uma coletiva de imprensa, o governador do estado, João Dória (PSDB), questionou diretamente o presidente. “O mundo todo está em casa e o único certo é o Bolsonaro?”, perguntou, para logo emendar: “Quem será o fiador das mortes no Brasil?”. Ainda em quarentena, São Paulo registra o maior número de óbitos do país: 68 dos 92 registrados.