Religião e política não podem se misturar

Essa história foi contada no programa “Obreiros em Foco”, do bispo Sérgio Corrêa, da Igreja Universal do Reino de Deus.

Uma obreira chamada Denise afirma ter engravidado do demônio e dado à luz a três caveiras de plástico.

Denise, o bispo e as caveiras estavam no altar e milhares de pessoas na plateia. Outras milhares – ou talvez milhões – assistem ao programa em casa.

O bispo disse acreditar na história e lembrou aos fieis dos perigos de se afastar da igreja, como fez Denise no período que antecedeu a “gravidez”.

“Agora vejam a importância da “Caravana do Resgate”, feita pelo bispo Sergio Correa (ele fala em terceira pessoa). Se não fosse por esse trabalho essa moça não estaria aqui hoje. Expeliu essas caveiras e está liberta!”

É uma pena que casos tão fantásticos quanto esse passem quase que totalmente despercebidos, restritos aos templos, a canais de internet ou ao espaço silencioso das madrugadas na TV aberta, vendido a igrejas.

Espaço esse, aliás, de que as emissoras dispõem por concessão pública.

Mas o que levaria uma mulher a ir ao palco/altar da igreja dizer que pariu caveiras de plástico, trigêmeos do demônio, se isso for uma mentira?

Talvez doença mental, então ela não seria responsabilizada criminalmente. Em qualquer outro caso deveria ser.

Não só ela, como a emissora, a igreja, o pastor… todos os que incentivam esse circo e se utilizam de fraudes para ganhar dinheiro, numa atitude que lembra muito o que o Código Penal atribui ao estelionatário.

Mas parece que nos acostumamos a olhar pra esses casos com a confortável distancia da ironia, e nos satisfazemos em gargalhar pelas costas de fiéis que se assustam com uma moça que pariu caveiras de plástico satânicas.

Afinal, muitos acreditam também que religião não se discute.

O problema é que abandonar essa discussão, de certo modo, é se omitir, é também contribuir com o estelionato.

Pior ainda é se curvar a esses pastores em troca de votos.