Uma mão lava a outra: a foto de Zezé Perrella em apoio à PF é mais um escárnio às leis no Brasil. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 21 de março de 2016 às 15:12
O dono do Helicoca
O dono do Helicoca

 

O momento nacional é pródigo em imagens emblemáticas. No futuro os retratos dos protestos antigoverno, com sua profusão de fascistas mimados, será estudada nas escolas do Brasil e do exterior.

Quando você acha que não faltava mais nada — torturadores aclamados, corruptos festejados e depois escorraçados, um juiz canonizado, sonegadores reclamando de roubalheira etc —, surge o senador Zezé Perrella.

Perrella postou em sua página no Facebook uma fotografia e uma espécie de manifesto em “apoio às propostas de emenda à Constituição que defendem a autonomia administrativa” da PF.

“O Brasil precisa de uma Polícia Federal forte, competente, motivada e imune a interferências externas”, escreveu o amigo de Aécio Neves (aliás, presenteado com um pixuleco de 350 mil reais autorizados por Aécio, conforme consta na Lista de Furnas).

Perrella deve gratidão eterna aos agentes.

Ao longo dos últimos dois anos, eles vêm se empenhando em criminalizar Lula, o PT e o que ficou conhecido como “organização criminosa” antes que houvesse provas dos crimes. O “triplex do Lula” foi classificado como um imóvel com “alto grau de suspeita quanto à sua real titularidade”.

Sob o comando de Sergio Moro, executaram escutas. Depois que o próprio Moro mando que elas fossem interrompidas, gravaram um diálogo entre Lula e Dilma em que ela lhe pede para usar “só em caso de necessidade” o termo de posse.

Moro vazou ilegalmente o grampo para o Jornal Nacional. A PF emitiu uma nota culpando a empresa de telefonia e, posteriormente, o chefe: “Encerrado efetivamente o sinal pela companhia, foi elaborado o respectivo relatório e encaminhado ao juízo competente, a quem cabe decidir sobre a sua utilização no processo”.

Onde estava essa diligência quando se tratou de elucidar o caso do Helicoca?

Rememorando: no dia 24 de novembro de 2013, um helicóptero com 445 quilos de pasta base de cocaína foi apreendido numa fazenda no Espírito Santo.

A aeronave pertencia à Limeira Agropecuária, do ex-deputado estadual Gustavo Perrella, da irmã dele, Carolina Perrella, e do pai, Zezé Perrella.

O piloto, Rogério Almeida Antunes, era funcionário da Limeira tinha um cargo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais por indicação de Gustavo.

A droga veio do Paraguai, onde esteve quatro dias antes do flagrante. Passou pelo Campo de Marte, na capital paulista, e por Minas Gerais. A carga estava avaliada em 50 milhões de reais.

Nunca houve qualquer dúvida quanto a quem pertencia o helicóptero.

No entanto, o doutor Leonardo Damasceno, da PF de Vitória, em velocidade estonteante, inocentou os Perrellas de qualquer participação no crime. Damasceno chegou a essa conclusão em 15 dias, baseado, oficialmente, nas ligações telefônicas dos celulares capturados.

Zezé Perrella não foi sequer ouvido, nem para dizer que não tem nada a ver com a coisa. O assunto teria morrido, não fosse a série de reportagens do DCM que culminou num documentário.

Meia tonelada de coca na aeronave de um parlamentar jamais rendeu uma declaração pública das autoridades de que havia “alto grau de suspeita” com relação ao homem.

Esse ciclo vicioso encontra um ápice na pose de Zezé Perrella em seu gabinete, desejando que os policiais federais continuem fazendo o de sempre: assassinando reputações, dando show, completamente à solta, aparecendo como heróis para bandidos nas avenidas e no Congresso.