O que a oposição brasileira poderia aprender com o venezuelano Caprilles

Atualizado em 26 de outubro de 2012 às 16:14

Caprilles não ganhou, mas deu calor a Chávez ao encampar a bandeira da justiça social
 

Caprilles perdeu, mas deu calor a Chávez

Se o PT se mantiver por um longo período no Palácio do Planalto, vai ser, em parte, graças a uma oposição que é tudo que alguém no poder deseja.

A oposição ao PT é míope e inepta. Ela não incomoda – com novas ideias, projetos, o que for —  o PT em seu ponto forte: a justiça social.  Pelos próximos anos, talvez décadas, a questão da justiça social vai dominar a agenda política no Brasil e no mundo.

Os votos – e o poder – vão ser dados, em escala mundial, aos líderes e partidos que trouxerem as melhores respostas para o drama da iniquidade.  Na França, Sarkozy foi varrido na luta pelo segundo mandato porque seu adversário, o socialista François Hollande, foi julgado pelos franceses mais apto a redistribuir a riqueza nacional, tão concentrada em poucos.

Na Venezuela, o adversário de Chávez, Caprilles, encampou o tema da justiça social. Não ganhou, mas deu a Chávez um calor que este jamais enfrentara em eleições presidenciais. Caprilles reconheceu os avanços sociais da Venezuela sob Chávez e disse, na campanha, se inspirar em Lula.

Não ganhou porque Chávez é um adversário duríssimo de ser batido nas urnas, tamanha a sua popularidade entre os venezuelanos. Mas Caprilles pelo menos deu nexo à oposição a Chávez, que até ele se limitava a tramar golpes e a atacar ferozmente o governo.

O PSDB poderia se inspirar em Caprilles. Mas não. O partido foi se encaminhando para a direita até se confundir com o malufismo. Os comentaristas políticos que o apoiam na mídia tratam a expressão “justiça social” com escárnio. Não se dão conta de que, com isso, afastam os eleitores e, portanto, apenas ajudam o PT.

Serra, o principal nome da oposição, representa hoje uma espécie de neomalufismo. Na campanha presidencial passada, tentou explorar o aborto contra sua adversária. Agora, na disputa pela prefeitura, fez de um assim chamado “kit gay” uma arma eleitoral. Alinhou-se a um coronel da rota e a um bispo evangélico que representam um mundo em decomposição, de tão velho e mofado.

Dentro desse quadro, não existe à vista nenhuma oposição capaz de derrotar o PT em 2014 – ou pelo menos a incomodá-lo como Caprilles fez com Chávez. Aécio não parece ter as qualidades necessárias para aglutinar a oposição brasileira como Caprilles fez na Venezuela. Sua fama de playboy o distancia consideravelmente da imagem de alguém genuinamente preocupado com a justiça social.

É factível, consideradas as circunstâncias presentes, que a situação seja tão cômoda para o PT que Lula, em 2014, dispute o governo de São Paulo com Alckmin enquanto Dilma ruma ao segundo mandato.

Não parece haver na oposição nem visão, nem energia e nem vontade de se modernizar para enfrentar o PT. É possível que exista no PSDB o temor de que, ao abraçar a “justiça social”, a mídia que luta tanto pelo partido fique desgostosa e acabe migrando rumo a candidatos para os quais a iniquidade não seja um ponto a debater.

Mas é possível que, em algum momento, o PSDB tenha que optar entre o apoio da mídia e o apoio dos eleitores, caso tenha pretensão de não se tornar uma nova Arena ou UDR. O tão falado “projeto de hegemonia” do PT  pode sim ser derrotado. Mas para isso são necessários votos. Sem uma plataforma competente, honesta, digna de combate à desigualdade social, a oposição vai ter que se contentar com editoriais e colunistas que a defendem encarniçadamente – mas que  lhe não dão nem votos e nem futuro.