Por que merece palmas o editor grego que ousou publicar a lista das pessoas com conta secreta na Suíça

Atualizado em 2 de novembro de 2012 às 18:15

Costas Vaxenamis deu voz àquela parcela da população da qual os governos exigem sacrifícios ilimitados

Vaxevanis

O Diário saúda a transparência, uma de nossas crenças fundamentais.

E aplaude, em nome dela, o jornalista grego Costas Vaxenanis, editor de uma revista semanal chamada Hot Doc.

Vaxenanis publicou uma lista com 2 000 pessoas da elite grega política e econômica que têm contas secretas na Suíça e são suspeitos de sonegar impostos.  Ele chegou a ser detido pela polícia, mas a justiça decidiu que ele não será processado.

A lista foi passada à diretora executiva do FMI Christine Lagarde quando ela era ministra de Economia da França, em 2010. O vazamento, aparentemente, foi feito por um funcionário do HSBC.

Christine encaminhou a lista às autoridades gregas. E nada aconteceu. Até que, afinal, os nomes chegaram a Vaxenanis. E ele tomou a melhor decisão: publicou.

A jeito grego de lidar com impostos se espalhou pelo mundo – com resultados catastróficos para o interesse público em todas as partes. Basicamente, trata-se de não pagar impostos, mediante expedientes de toda natureza.

A Grécia quebrou com isso, e os países que seguiram seu caminho vão tendo o mesmo destino. Economia nenhuma funciona quando grandes empresas e milionários escapolem, ainda que por vias legais, da carga justa de tributos.

Uma hora simplesmente falta dinheiro para o Estado cumprir suas obrigações – e então a conta tem sido passada para a sociedade, entendidos aí pensionistas, viúvas, deficientes físicos etc. Governos pedem austeridade – renúncia a direitos, para sermos mais claros – ao povo enquanto uma pequena elite acumula cada vez mais dinheiro ao fugir dos impostos.

Os protestos que se espalham pelo mundo derivam exatamente disso. Na Grécia, na Espanha, em Portugal, nos Estados Unidos, na Inglaterra, para ficar em alguns casos apenas, os manifestantes estão dizendo mais ou menos o seguinte: “Chega de bater minha carteira.”

O editor grego Vaxenanis deu voz e argumentos aos seus conterrâneos agrupados nos chamados “99%” da população – aquela porção da sociedade de quem o “1%” gostaria que se dispusesse a ser voluntariamente esfolada.

Me pergunto, aqui, por que nenhuma lista dessa natureza surgiu ainda no Brasil. Também me pergunto por que há tão pouca transparência, no país, em relação aos impostos. E finalmente fico na dúvida sobre o que a mídia tradicional brasileira faria caso alguém vazasse uma coisa dessas.

O que Vaxinanis fez se chama jornalismo. Com maiúsculas. Com exclamação.

Clap, clap, clap, portanto, para ele.

De pé.