O dramático declínio da mídia impressa na Alemanha

Atualizado em 24 de novembro de 2012 às 14:13

O mercado alemão de jornais parecia relativamente imune ao ataque da internet. Agora não mais

Mais uma morte no mundo da mídia impressa

O texto abaixo foi publicado, originalmente, na edição em inglês do site da revista alemã Der Spiegel

Durante anos, a Alemanha pareceu imune à dramática crise na mídia impressa que varre os Estados Unidos e outros países. Nas últimas semanas, entretanto, a indústria alemã de jornais foi alcançada por duas quebras notáveis. Na sexta-feira, o respeitado jornal Financial Times Deutschland (FTD) se tornou a última vítima.

O mercado alemão de jornais é um dos maiores do mundo. Com 333 títulos disponíveis aos leitores, entre os quais numerosos e robustos diários regionais, o país parecia um bastião de estabilidade dentro de um caótico mercado global de publicações impressas.

Os bons tempos, porém, parecem ter acabado. Isso ficou claro quando a editora Grunner + Jahr anunciou o fim do FTD, o braço alemão do influente jornal de negócios britânico. A última edição do jornal cor de salmão será publicada dia 7 de dezembro, após o que 320 funcionários perderão o seu emprego.

O anúncio veio depois de dias de especulações segundo as quais o jornal estava com problemas , e é parte de outros golpes recentes no panorama altamente diversificado da mídia impressa alemã.  Poucos dias antes, o Frankfurter Rundschau (FR)um dos 10 maiores diários alemães, entrara com um pedido de bancarrota depois de anos de queda de assinaturas e de receita publicitária.

Em outubro, a agência de notícias alemã DAPD declarou bancarrota dois anos apenas depois de ter sido fundada numa fusão da Associated Press em alemão com a agência de notícias alemã DDP. Estão sendo feitos cortes também no diário Berliner Zeitung, publicado pela mesma companhia do FR.

Com tudo isso, o fechamento do FTD não chega a surpreender. Lançado em 2000, o jornal jamais obteve lucro, e perdeu aproximadamente 250 milhões de euros desde então. No ano passado, o FTD  teve um prejuízo de 10 milhões de euros. Ao longo dos seus 12 anos de existência, o jornal se tornou uma das mais respeitadas marcas na mídia financeira do país. Em 2008, a editora britânica Pearson, que é dona da marca Financial Times, vendeu seus 50% de participação para a Grunner + Jahr por uma quantia calculada entre 15 e 20 milhões de euros.

“O FTD foi um dos projetos jornalísticos mais audaciosos da última década”, disseJulia Jakel, executiva-chefe da Grunner + Jahr num comunicado publicado ontem. “Os diários estão sob pressão, particularmente na área de negócios. O FTD teve prejuízos desde o seu lançamento em 2000. Isso considerado, não vimos como continuar a publicá-lo.”

Apesar da continuada dedicação dos alemães à mídia impressa, o setor já não está imune às turbulências que se registram em todo o mundo, na medida em que cada vez mais leitores se transferem para a internet em busca de notícias. De acordo com o instituto de pesquisa Nielsen, a receita publicitária dos jornais na Alemanha caiu 6% nos primeiros 10 meses do ano, em comparação ao mesmo período de 2011 – o que é a continuação de uma longa tendência de queda. Os jornais detinham 29% do bolo publicitário alemão em 2000. E este número agora baixou para 20%, de acordo com a Federação de Editoras de Jornais da Alemanha.

No que diz respeito à circulação, números cadentes também se tornaram a norma. Na última década, a circulação paga dos jornais alemães se reduziu de 23,7 milhões de cópias para 18,4 milhões, uma queda equivalente ao que vem acontecendo nos Estados Unidos. A circulação do FTD, entretanto, caiu ainda mais rapidamente. Entre o terceiro trimestre de 2006 e o deste ano, as assinaturas caíram de 62 mil para 42 mil. A circulação total durante este período manteve-se na marca de 100 mil, mas uma porção cada vez maior de exemplares vinha sendo dada gratuitamente.

Nos últimos anos,  as perdas experimentadas na mídia  impresso têm se refletido nos ganhos do jornalismo na internet. A receita de publicidade na internet disparou nos últimos anos, chegando a 15,4% em 2011 na Alemanha. “Desde a nossa fundação, cobrimos jornalisticamente o poder criativo e destrutivo da internet mais do que provavelmente outra publicação na Alemanha”, escreveu o diretor de redação do FTD, Steffen Klusmann, no site do jornal ontem. “Mas não conseguimos desenvolver um negócio baseado na internet capaz de financiar o tipo de jornalismo que fazemos.”