“O Brasil não é a Venezuela”, disse Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal. Para alguém que deveria ser sinônimo de moderação e sobriedade, Mendes parece absurdamente desequilibrado.
Não vou entrar aqui nos testes de voz que, pelo que leio, detectam “risco” em certas passagens de declarações gravadas de Mendes. “Risco” é a chance de a pessoa estar mentindo.
Não confio nestes testes. Podem, imagino, ser manipulados. Lembro uma vez que o Jornal Nacional publicou a avaliação de um perito que comprovaria que Serra foi de fato atacado no célebre Atentado da Bolinha de Papel.
Exploro outro ponto.
O Brasil não é a Venezuela. Certo. Mas uma frase dessas sem dúvida contribui para que o Brasil e a Venezuela vão se tornando parecidos – na polaridade, na divisão, numa ‘guerra civil’ em que os tiros são, pelo menos por enquanto, desferidos no plano da retórica incendiária como a de Mendes.
Convoco aqui a sabedoria sensata de Fernando Henrique Cardoso. Várias vezes, ele disse algo que é óbvio, mas que quase ninguém parece ver: o PT e o PSDB são muito parecidos. São partidos de centro. O PT é um pouco mais à esquerda. Só isso. Centro esquerda, como o Partido Socialista de François Hollande, ou os Trabalhistas de Ed Miliband.
É por ter clareza nisso que FHC jamais vociferou contra o PT ou Lula. Não anunciou o apocalipse em nenhum momento diante da iminência de Lula chegar ao poder, num contraste formidável com cassandras como um presidente da Fiesp que dizia que 800 000 empresários abandonariam o Brasil se o PT vencesse as eleições presidenciais.
Convoco aqui também Dilma: ao reconhecer publicamente os méritos de FHC como presidente quando ele fez 80 anos, ela deu uma lição de civilidade que deveria ter sido mais levada a sério pelos petistas.
Gilmar Mendes deveria contribuir para acalmar as coisas, como magistrado. Mas ele vem fazendo o oposto.
O Brasil não é a Venezuela, mas quando você ouve Mendes a sensação é que é.