Por que amamos Bolt quando deveríamos detestá-lo

Atualizado em 10 de agosto de 2012 às 8:07
Bolt e seus dois conterrâneos na prova em que a Jamaica levou as três medalhas

 

Por que Bolt é Bolt?

Quero dizer: todos amamos os perdedores, e no entanto torcemos loucamente por um vencedor como o jamaicano Usain Bolt.

Bolt contraria uma regra eterna.

Em condições normais, as 80 000 pessoas presentes ao Estádio Olímpico estariam torcendo contra Bolt hoje, nos 200 metros rasos, e há poucos dias, nos 100.

Mas não.

Claro: o talento extraordinário dele conta muito. Mas não é o fator mais determinante.

O que mais nos encanta em Bolt é a simplicidade, a humildade, a alegria. E a elegância nos gestos: nas duas vitórias nos Jogos de Londres, ele interrompeu entrevistas que concedia para ouvir, atento e reverente, o hino de atletas que estavam no topo do pódio recebendo seu ouro. Em Bolt você enxerga um mundo melhor do que o de verdade, um mundo em que as pessoas riem, brincam e limitam as competições ao campo do esporte.

Meu tributo

No Planeta Bolt, as armas são não as bombas, não são os drones, não são as AKs 47 – e sim as pernas rápidas e a mente forte para suportar pressões extraordinárias. Com isso, e apenas isso, ele se tornou o primeiro atleta e defender com êxito o ouro olímpico nos 100 metros e nos 200. Venceu as duas provas em Beijing, venceu as duas provas em Londres.

Durante os 10 ou vinte segundos que dura uma corrida de Bolt, dependendo da distância, a humanidade fica melhor do que é. Infelizmente logo acordamos para a áspera realidade.

Bolt nos faz felizes, ainda que por alguns segundos, e melhores do que jamais seremos.

Por isso o amamos.