A candidatura à presidência de Alckmin em 2018 vai naufragar na falta de água e nas mentiras

Atualizado em 3 de fevereiro de 2015 às 14:18
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“Brasil pra frente, Geraldo presidente!”

Esse grito foi lançado assim que Geraldo Alckmin terminou seu discurso de posse em janeiro. Esse plano corre um risco enorme diante do caos da falta de água em São Paulo e do Alckmin que emergiu disso: um mitômano na melhor tradição malufiana e um gestor medíocre.

O apelido “Picolé de Chuchu” serviu para um propósito. Se a imagem de Serra é a do Velho do Rio Hades e a de Aécio a do Menino do Rio, Alckmin transmitia uma certa sensação de que, apesar da falta completa de carisma, era um sujeito confiável e até competente.

Um médico do interior do estado, com cara de honesto, cumpridor de suas obrigações. A vitória acachapante no primeiro turno lhe deu condições de disputar novamente a presidência em 2018.

Essa perspectiva fica seriamente abalada com a condução criminosa da crise hídrica. Todo o mundo pode, sim, ser enganado o tempo todo, mas até para isso há um limite. O limite é quando as pessoas não conseguem nem cozinhar o jantar.

Alertado em 2004 para a insuficiência do Sistema Cantareira, Alckmin respondeu com a inoperância e, quando cobrado, com a mentira. Na campanha de 2014, repetiu sistematicamente que:

. “Não haverá racionamento em São Paulo.”

. “Nós estamos preparados para a seca.”

. “Não falta água em São Paulo, não vai faltar água em São Paulo.”

. “O abastecimento está garantido na região metropolitana”.

. “A crise hídrica está com os dias contados”.

Agora tem culpado o clima — e mesmo nesse particular ele é falso. “Esta é a maior seca em 84 anos”, declarou no fim do ano passado. No programa Canal Livre, da Band, há duas semanas achou melhor dilatar o tempo: “Nós estamos enfrentando a maior seca dos últimos 125 anos”.

Uma coisa é não cumprir uma promessa na educação, por exemplo, cujo efeito será sentido de maneira diluída. Outra é ser irresponsável com um serviço essencial para a sobrevivência.

O site da revista The Atlantic tem uma boa matéria sobre como a nevasca de 1888 construiu o gestor público americano moderno. A neve caiu sobre a costa leste das metrópoles, destruindo a infra-estrutura e paralisando o comércio. “A devastação deixou os eleitores convencidos de que as cidades funcionariam somente se os governantes tiverem um papel maior e mais pró-ativo”, diz o texto.

Foi um cataclisma. “A maioria dos moradores foram pegos despreparados. As cidades do século 19 eram monumentos ao domínio do homem sobre a natureza. (…) As tempestades são agora a régua pela qual se avalia a habilidade dos políticos em operar a maquinaria complicada da administração.”

A maquinaria da administração. Por mais inofensivo que possa parecer aquele tiozinho no Palácio dos Bandeirantes, por mais que ele representasse para muita gente o Bem contra o Mal Supremo, o cidadão quer votar em alguém que, no mínimo, não acabe com seu banho ou com seu café.

Quando o eleito não garante nem isso e ainda engana a multidão de maneira compulsiva, é preciso pôr em prática a Lei dos Teletubbies: é hora de dar tchau. O projeto de Geraldinho para a presidência em 2018 está sendo imolado diariamente no altar da Sabesp.