A coincidência absoluta do encontro entre Moraes e Moro e a nova prisão de petistas. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 23 de junho de 2016 às 16:33
Os agentes do Grupo de Pronta Intervenção, GPI, na sede do PT
Os agentes do Grupo de Pronta Intervenção da PF na sede do PT

 

Pode ser absoluta coincidência que a operação Custo Brasil, desdobramento da Lava Jato, cuja alvo foram lideranças do PT com destaque para o ex-ministro de Lula e Dilma Paulo Bernardo, tenha ocorrido dois dias após uma visita de Alexandre de Moraes a Sergio Moro.

Mas há, por outro lado, um desprezo completo em manter as aparências que acaba sendo revelador do viés partidário.

O ministro da Justiça esteve em Curitiba num compromisso fora de sua agenda (alô, Marco Antonio Villa). Reuniu-se com Moro e seu time para, oficialmente, declarar suporte irrestrito. Um dos presentes era o delegado Igor Romário de Paula, aquele que foi flagrado postando mensagens pró Aécio em 2014.

Na quinta, questionado, Moraes acusou o golpe. “Não há nenhuma relação da minha visita institucional de apoio à Lava Jato. Provavelmente seja isso que tenha deixado desconfortável essas pessoas, é que o governo anterior jamais apoiou institucionalmente a Lava Jato, porque o governo anterior jamais apoiou o combate à corrupção”, afirmou.

Vendeu seu peixe. A gestão do interino “apoia totalmente o combate à corrupção, apoia totalmente a Operação Lava Jato, e não tem vergonha, como o governo anterior tinha, de dizer isso”.

O momento não poderia ser melhor para Temer. Com três ministros a menos em dois meses, o chefe citado diretamente por Sérgio Machado, Cunha na roça, o PT volta a ser o vilão nacional.

A velha propensão dos agentes para dar espetáculo voltou com tudo. Os homens escalados para a blitz na sede petista em São Paulo eram do Grupo de Pronta Intervenção, GPI, um batalhão de elite treinado para distúrbios civis.

Vestem-se com uniformes camuflados e usam rifles de assalto. Tudo numa manhã gelada paulistana para invadir um sobrado numa rua estreita do centro.

A diretora de comunicação contou à Folha que eles sabem que “há riscos de tumultos e manifestações” quando as operações acontecem “em sedes de partidos políticos”. Qual? Quando? Onde?

A ideia, na verdade, é mesmo ficar bem na foto. O ciclo se fecha com a coletiva dos investigadores orgulhosos, transmitida ao vivo na GloboNews, com discursos pretensiosos sobre o “câncer” da corrupção (a escola Deltan Dallagnol).

É evidente que, se Bernardo e os demais cometeram crimes, têm de ser punidos. A questão, aqui, é outra: sempre os mesmos? Sempre do mesmo jeito? E os outros? E o timing?

Enfim, um espetáculo como o brasileiro já estava sentindo falta, com o velho e bom script. O único pecado, talvez, seja o ensaio tão competente. Moro e seus amigos podiam fingir que erram um pouco para ver se conferem mais credibilidade ao negócio.