A contribuição milionária da imprensa para ampliar a crise econômica. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 2 de dezembro de 2015 às 15:46
Só notícias ruins
Só notícias ruins

Existe uma expressão em inglês chamada self fulfilling prophecy. Numa tradução livre, profecia auto-realizável. O termo foi cunhado em 1949 pelo cientista social americano Robert Merton.

É mais ou menos o seguinte.

Você tanto fala numa coisa com bases falsas que ela acaba se tornando realidade. Um exemplo comumente citado é o de alguém que, ao acordar, já fala que vai ter um mau dia. Se ele colocar isso na cabeça, acabará por criar as condições para que seu dia seja, efetivamente, ruim.

O Brasil vive um momento de profecia auto-realizável. Tanto a mídia, por motivações políticas, gritou que o Brasil vivia um inferno econômico que as coisas, efetivamente, se complicaram.

Não há economia que resista a maciços ataques de catastrofismo.

Seria um ano difícil, sem dúvida. O Brasil vinha de dez anos de crescimento ininterrupto, e não há vento que sempre bata para um só lado na economia.

Adicionalmente, a crise global começou a cobrar – enfim – seu preço do Brasil. Mundo afora, o dólar estourou, para ficar num caso.

Mas a imprensa se apressou em atribuir o drama do dólar apenas ao Brasil. Não era o universo em convulsão. Era o Brasil. Quer dizer, era o governo Dilma.

Demorou semanas para que alguém, na mídia, mostrasse a floresta, e não a árvore: o dólar crescera diante de todas as moedas, do euro ao yuan chinês.

Agora, imagine. Você é empresário, e está submetido a uma corrente interminável de previsões apocalípticas.

O que você faz?

Vai para a defesa, naturalmente. Isso significa demitir, cortar investimentos e coisas do gênero.

Pronto. A profecia se auto-realizou.

Os rugidos negativistas da mídia encontraram o parceiro ideal numa oposição obcecada em derrubar Dilma, e cassar assim 54 milhões de votos, a qualquer preço.

Projetos fúnebres para o país – as apropriadamente chamadas pautas bombas – foram aprovados com a execução de Eduardo Cunha e a contribuição milionária do PSDB de Aécio.

A crise política nascida abjetamente do desejo sujo de dar um golpe na democracia acabou piorando, também, a crise econômica. Mais uma vez, era a profecia auto-realizável em ação.

Ainda haveria um outro fator para dar dimensões muito maiores a um problema que poderia ser relativamente pequeno: a Lava Jato, com seu espalhafato.

Segundo a BBC, a Lava Jato pode ter tido um impacto negativo no PIB de 2,5 pontos. Uma recessão de coisa de 1% negativo pode chegar a menos 3,5%. Grandes corporações ficaram imobilizadas com a Lava Jato.

Alguém terá feito a conta do custo benefício da Lava Jato? Moro pegou uma calculadora? Duvido.

Haveria uma forma de enfrentar a corrupção no mundo do petróleo sem o custo devastador que se apresentou? Muito provavelmente.

E o ciclo pode continuar. O economista Gustavo Loyola, presidente do Banco Central na era FHC, está no noticiário dizendo que a crise econômica vai até 2018.

É bom que se desconfie dessa previsão, muito mais fundada na política do que nos fundamentos econômicos.

Até porque, se ela se propagar, poderemos perfeitamente estar, neste final de 2015, começando a fabricar uma crise que cederá apenas em 2018.

A isto o professor americano Merton deu, em meados do século passado, o nome de profecia auto-realizável.