Como a Copa afeta as eleições

Atualizado em 10 de julho de 2014 às 22:19
Logo depois nosso gaúcho estava rindo
Logo depois nosso gaúcho estava rindo

Muito se vai especular, na política, sobre os efeitos da paulada que o Brasil levou da Alemanha.

Os comentários mais apocalípticos partidão, ou já estão partindo, dos interessados numa brusca mudança no quadro existente hoje.

Sob essa ótica, a derrota vai levar os brasileiros a descontar em Dilma, em outubro, a raiva que os sufoca.

O cientista social Roberto da Matta foi um dos primeiros a seguir essa trilha. Numa entrevista à BBC, ele disse que o fracasso na Copa levaria os brasileiros a “pensar em nos problemas do país”, como a inflação e o baixo crescimento.

Pensar nos problemas do país significaria, numa palavra, não votar em Dilma.

“A Alemanha salvou o Brasil do PT”, escreveu o candidato nanico Levy Fidelix no Twitter.

É o clássico triunfo da esperança. E, também, uma brutal subestimação do brasileiro, por imaginá-lo tão suscetível a um evento esportivo, ainda que estejamos falando de Copa do Mundo.

A reação típica aos 7 a 1 está num torcedor cuja foto de imenso desalento no Mineirão viralizou como símbolo da dor nacional.

Vestido como um tradicional gaúcho, bigode do Barão do Rio Branco, olhos baixos, ele aparecia agarrado a uma réplica da Copa.

Era Clóvis Fernandes, integrante de um grupo chamado Gaúchos na Copa. Desde 1990 ele segue a seleção em todas as Copas, e se autoproclama “12.o jogador”.

Num certo momento, ele percebeu que segurar uma cópia da taça atraía a atenção dos fotógrafos – e isso ficou espetacularmente provado no Mineirão.

Não durou muito a estupefação arrasada de Clóvis. Ainda no Mineirão, em outra foto  ele aparecia já sorrindo, ao entregar a réplica a uma jovem torcedora alemã.

Numa página do Facebook, a foto da entrega foi postada, com a seguinte legenda: “Leve [a taça] até o final.  (…)Vocês merecem. Gluckwunsche.” (Parabéns, em alemão.)

A tristeza imensa no esporte tem vida invariavelmente breve, bem como seu oposto, a euforia triunfal.

Imaginemos que o Brasil fosse campeão mundial pela sexta vez, neste domingo. Um ou dois dias depois, o sentimento de festa eterna já teria minguado – e os problemas da vida real voltariam a ocupar o lugar de sempre na mente das pessoas.

Trabalho, saúde, família, contas a pagar – é a vida como ela é, todos os dias, e não durante o intervalo efêmero de uma Copa.

Dilma tem, hoje, um amplo favoritismo, mas muitas coisas podem acontecer, naturalmente.

O que não ocorrerá é uma mudança de panorama devida à Copa. Mais uma vez: nosso gaúcho bigodudo – Clóvis, não Felipão – é um excelente exemplo da fugacidade das emoções futebolísticas, boas ou más.

Qualquer que seja o resultado das urnas, ele não será fruto de nada ligado à tarde em que a Alemanha esmagou o Brasil.