A coragem de Dallagnol está no escândalo de corrupção que ele escolheu comentar: Globo ou Alerj? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 17 de novembro de 2017 às 19:15
Dallagnol
Ele

 

Finalmente!

Demorou alguns dias, mas Deltan Dallagnol, o procurador longilíneo, de bochechas rosadas, cabelo bem aparado e óculos de aro fino — na imortal definição da sua antiga agência de palestras –, manifestou-se sobre o caso de corrupção que anda nas cabeças, nos becos e nas bocas.

Na terça, o empresário argentino Alejandro Burzaco, uma das testemunhas do julgamento de ex-dirigentes de futebol acusados no escândalo da Fifa, afirmou que a Globo pagou propina para assegurar direitos de transmissão de partidas.

Bomba!

Dallagnol, do alto de sua indignação evangélica, dos andares mais altos de sua retidão moral, bradou um basta! Seu amigo Carlos Fernando dos Santos Lima, mais uma vez, replicou o depoimento.

Ambos mostraram que, afinal, a Lava Jato não é partidária, a Globo não é parceira e cúmplice do MP e a acusação de que eles são demagogos é profundamente injusta.

Mentira.

Dallagnol foi ao Facebook para deitar falação a respeito da votação na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro que libertou Picciani e mais dois deputados.

“Não desista do Brasil”, diz ele. “Nós não podemos nos anestesiar”, continua, num texto pedestre e cheio de platitudes.

Eis a especialidade do amigo da Cássia Kiss: servir misto quente de falso moralismo às massas. Bater em cachorro morto. Enganar trouxa. Entrar em partida ganha.

Era pedir demais que desse seus pitacos sobre o caso da Globo? Claro que sim.

Dallagnol é um meme de internet. Uma versão da Gretchen de banho tomado.

Populismo judiciário. A gente vê por aqui.

Não desista do Brasil. Hoje os políticos mostraram do que são capazes. Não me refiro às provas consistentes da prática de corrupção por líderes políticos do Rio de Janeiro. Eu me refiro à conduta dos demais. Os deputados da Assembleia do Rio deveriam ser os primeiros a endossar a atuação da Justiça e apurar a responsabilidade de seus líderes, mas o comportamento foi o oposto. Isso tem que indignar Você.

Nós não podemos nos anestesiar, mas sim dar vazão à nossa indignação, de modo pacífico e democrático, por meio da participação popular. Se Você não se envolver, eles ocuparão o seu espaço. Se hoje os políticos mostraram do que são capazes, em 2018 a sociedade brasileira precisa mostrar do que é capaz, nas urnas, agindo de modo organizado para eleger apenas políticos com ficha limpa, que expressem compromisso com a democracia e que apoiem propostas anticorrupção, com palavras, votos e atitudes.

Há entidades respeitadas da sociedade civil trabalhando nesse sentido. Não esqueça do que aconteceu hoje e se una a elas em 2018, o ano que representa a grande chance brasileira contra a corrupção.

O que aconteceu no Rio de Janeiro hoje é uma amostra do que pode acontecer em Brasília e com a #LavaJato se em 2018 não virarmos o jogo contra a corrupção. Quando a punição bater na porta dos grandes líderes corruptos, eles perderão a vergonha de salvar a própria pele. A única solução é por meio da democracia e de uma política mais íntegra, e isso depende de Você.