A Folha mostra o legado social do PT que ela própria sempre escondeu. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 13 de dezembro de 2015 às 11:58
Milhões de pobres  ascenderam à classe média e foram às compras nestes 13 anos
Milhões de pobres ascenderam à classe média e foram às compras nestes 13 anos

A Folha, depois de anos de pesquisas e levantamentos da mais extraordinária inutilidade, descobre enfim o seguinte.

Vou usar as palavras do próprio jornal: “Em 13 anos de PT no poder, o Brasil distribuiu sua renda como em nenhum período da história registrada pelo IBGE. Todos ganharam. Quanto mais pobre, melhor a evolução. Foram 129% de aumento real (acima da inflação) na renda dos 10% mais pobres. Nos 10% mais ricos, 32%.”

Quer dizer: num país em que a desigualdade social é o maior e mais arraigado dos males, um real câncer, são números que merecem aplausos de pé.

Nenhum desafio para o país é maior do que o de reduzir a iniquidade. O abismo entre os poucos ricos e os muitos pobres é uma chaga muito mais deletéria do que a corrupção.

Quanto mais igualitária uma sociedade, menos corrupta ela é. Os países nórdicos estão invariamente na ponta nas listas de países com menor grau de corrupção, e o motivo é exatamente o igualitarismo. Você proporciona boa educação gratuita às crianças, ensina a elas noções vitais de ética, dá a todos boas oportunidades, protege os mais desfavorecidos e cria uma cultura segundo a qual praticar corrupção é um horror. Sonegar na Escandinávia, como faz abertamente a Globo, por exemplo, transforma você num pária.

Por mais pecados que o PT tenha cometido em 13 anos, e não são poucos, o fato de ter dado foco aos desvalidos o redime.

Você tira muitas conclusões dessa reportagem da Folha.

Uma é que isso – a redução – foi escondido estes anos todos, o que é um absurdo, quase um crime de lesa pátria, dado o tamanho abjeto e histórico da desigualdade.

Era algo que a Folha deveria ter feito na campanha de 2012, para ajudar seus leitores a entender melhor o que estava em jogo.

Outra é a inépcia do PT em se defender: como o partido não levantou, ele próprio, este tipo de coisa?

Estudos dessa natureza jogam luzes onde existem sombras, o que é a tarefa mais nobre do jornalismo.

Mas a imprensa brasileira faz exatamente o oposto, ou por má fé ou por incompetência: joga sombras até onde existe luz.

E então você entende o paradoxo do trabalho da Folha.

Mesmo com fatos acachapantes, apenas 31% dos brasileiros acreditam que sua vida melhorou nestes 13 anos de PT.

Ora, ora, ora.

Com o massacre cotidiano da imprensa sobre primeiro Lula e agora Dilma, a percepção das pessoas é que nestes 13 anos só houve corrupção.

Avanços sociais foram censurados numa mídia partidarizada, aparelhada pela direita e frequentemente desonesta.

E denúncias de corrupção, verdadeiras ou imaginárias, foram estupidamente ampliadas – não genericamente, mas contra um alvo específico: o PT.

Isso quer dizer o seguinte: é fácil, é simples explicar o paradoxo. As melhoras não são sentidas porque elas são soterradas por um noticiário envenenado.

E é exatamente pelo combate à desigualdade que a mídia – a voz da plutocracia predadora – tanto luta para derrubar o governo.

Não há propósitos moralistas na campanha da imprensa contra Dilma e Lula. O que existe é apenas a mesma lógica que a levou, no passado, a investir contra Getúlio e contra Jango.

A lógica das empresas de jornalismo é esta: defender seus interesses e os da classe que representa, a plutocracia.

Para sorte da sociedade, apareceu o jornalismo digital, com sites independentes e livres que funcionam como um contraponto potente ao esforço da mídia em manter o Brasil como um dos recordistas mundiais em desigualdade social.

Modestamente, nos orgulhamos de pertencer a este bloco de sites.