A Globo e FHC compartilham agora até o advogado. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 30 de abril de 2016 às 19:27
Na defesa da Globo e de FHC: o advogado Bermudes
Na defesa da Globo e de FHC: o advogado Bermudes

A Globo e FHC durante um tempo compartilharam a jornalista Mírian Dutra. A Globo a tinha na redação, FHC na cama.

Agora, Globo e FHC estão compartilhando o advogado Sérgio Bermudes.

Cada qual, presumivelmente, paga sua conta.

Bermudes defende FHC no caso do alegado envio de dinheiro para Mírian por meio da Brasif, empresa que explorava free shops em aeroportos brasileiros.

Mírian disse ao DCM, alguns meses atrás, que para receber a mesada – ou mensalinho – ela teve que assinar um contrato de prestação de serviços para a Brasif.  Jamais, sublinhou ao repórter Joaquim de Carvalho, fez nada do que estipulava o contrato além de recolher 3 000 dólares mensalmente.

Mírian afirmou a Joaquim que guardara todos os recibos. A PF abriu uma investigação. Para surpresa geral, Mírian se desmentiu. A especulação mais ventilada, mas não confirmada, sugeria que ela fizera um novo acerto com FHC para voltar a receber dinheiro.

Nesta semana, FHC depôs na PF sobre o caso, e sua versão coincidiu com a versão refeita de Mírian.

Sobre a credibilidade de Mírian, basta dizer que ela negou numa entrevista à jornalista Mariana Godoy ter falado com o DCM.

Joaquim falou algumas vezes com ela de São Paulo, e depois viajou para Madri para conversarem pessoalmente. Joaquim fez vídeos. Mesmo assim, ela negou.

É Bermudes quem defende FHC neste caso.

É também Bermudes que representa o Globo num processo movido por Lula depois de o jornal dizer repetidas vezes que era dele o famoso triplex do Guarujá.

As evidências apresentadas pelo Globo se tornaram célebres: circunstantes nunca identificados disseram ter visto Lula no prédio.

Isso foi em 2015, antes da Lava Jato e da denúncia do Ministério Público de São Paulo. Antes também dos pedalinhos de Atibaia, e antes, finalmente, que sites independentes como o DCM trouxessem a público o “Triplex dos Marinhos”.

É um casarão em Parati que configura a um só tempo um crime ambiental, por agredir a natureza protegida no local, e um assalto ao bem público, por tornar privada uma praia que é de todos. (A família diz que o triplex não é dela contra todas as evidências. Uma paisagista que trabalhou na construção disse ao DCM que tratou de assuntos com Paula Marinho, filha de João Roberto Marinho.)

Na defesa do jornal dos Marinhos no processo movido por Lula, Bermudes usou uma expressão que deveria ser tombada e posta no museu do antijornalismo.

Não é obrigação dos jornalistas “perscrutar” a verdade, segundo o advogado.

Ora, ora, ora.

Estaria assim dada a licença para que a mídia publique o que queira.

Ou, para falar num caso inverso relativo aos Marinhos: os jornalistas não teriam que “perscrutar” a verdade sobre a propriedade do triplex de Parati. Seria curiosa esta alegação num tribunal se a Globo processasse os sites que trataram sobre a mansão infame.

Mas, evidentemente, é um disparate que não merece respeito nenhum de quem faz, verdadeiramente, jornalismo. O repórter do DCM que investigou o tríplex, Renan Antunes, perscrutou exaustivamente a história, assim como Joaquim de Carvalho fez com as remessas de FHC para o exterior.

Só empresas que mandam no Brasil, como a Globo, podem se sair com uma desculpa como a dada por Bermudes.

Sites como o DCM têm que fazer jornalismo sério para não serem objeto de processos como o que Lula moveu contra o Globo por causa do tríplex do Guarujá.