A entrevista de Gilmar Mendes a Reinaldo Azevedo na Jovem ‘Ku Kux Klan’ Pan

Atualizado em 22 de dezembro de 2014 às 8:37
Bolivarianismo
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Gilmar Mendes não compareceu à diplomação de Dilma por ter um compromisso, conforme pediu a Toffoli que anunciasse ao público na cerimônia.

Que compromisso era esse?

Não sabemos. Mas ele, no mesmo dia, encontrou tempo para ir à rádio Jovem Pan para dar uma entrevista a Reinaldo Azevedo e propagar sua habitual catilinária antipetista.

A mensagem é clara, apesar do português solene e oco de Gilmar: Reinaldo Azevedo, agora Reinaldo Petralha para os fãs de Bolsonaro, é mais importante que Dilma.

A Jovem Pan, como toda a mídia tradicional, foi completamente aparelhada pela direita. Ali estão, além de Azevedo, Sheherazade, Nêumanne e Joseval Peixoto, entre outros arquiconservadores.

Não à toa, ela é chamada hoje de Jovem Klan, numa referência à Ku Klux Klan.

Uma concessão pública como a JP aparelhada é uma aberração, e isto é ainda mais imoral quando você vê que, por trás de tudo, está o dinheiro do contribuinte.

No site da JP você depara com dois patrocinadores ubíquos: a Câmara Municipal de São Paulo e a Sabesp. Sim, a Sabesp não teve dinheiro para cuidar direito da água dos paulistas, mas tem para bancar a Jovem Pan.

Desligue o plugue do dinheiro público e todas as grandes empresas de mídia simplesmente entram em colapso.

É uma estranha forma de capitalismo esta, financiada nos últimos doze anos pelo PT. Isso quer dizer que todos os Reinaldos Azevedos, e Mainardis, e Sheherazades,  Jabores, todos eles, eu dizia, devem seus contracheques ao partido que eles atacam ferozmente.

E o que cada um deles faz? Todos dão, metodicamente, o microfone a pessoas como Gilmar.

Que Aécio não tenha conseguido vencer com toda essa máquina de publicidade tentando empurrá-lo para o Planalto desesperadamente é um feito do qual ele deve se orgulhar.

Na entrevista a Azevedo, Gilmar Mendes fez o que vem fazendo há muito tempo: política, e não Justiça.

Se ele fosse um homem de princípios e de coragem, ia buscar votos para se dedicar, legitimamente, à política, e não fazê-la no lugar errado;

Juiz que faz política, como ele, coloca em risco as instituições democráticas. Juiz é para julgar, e não para tagarelar em programas de rádio.

Na Jovem Pan, Gilmar mostrou também, fora o habitual, seu lado Pastor Everaldo. Defendeu, se foi possível compreendê-lo, o Estado mínimo.

As estatais, segundo Everaldo e Gilmar, devem ser privatizadas – ao menos quando o governo é do PT.

Quer dizer: além de político, Gilmar se lança também como economista.

O aparelhamento da mídia pela direita é um problema sério, uma vez que significa uma tentativa de lavagem cerebral sobre a sociedade em benefício do interesse econômico e político de um pequeno grupo de privilegiados – o mesmíssimo grupo que transformou o Brasil num dos maiores exemplos de desigualdade social.

Mas, mesmo sendo enorme, é um problema que pode ser resolvido.

Mais complicado, paradoxalmente, é desatar a legislação que obriga os brasileiros a aturar por infindáveis anos um juiz como Gilmar Mendes, que foi colocado no STF por FHC para fazer exatamente o que vem fazendo estes anos todos.

Ao gesto de FHC de aparelhar a Justiça se dá hoje, nos círculos conservadores, o nome de “bolivarianismo”.

Quanto a Gilmar, fecha o ano com a tríplice coroa: mau juiz, mau político e, agora, também mau economista.