O povo de Melgaço tem sido muito hospitaleiro com a gente.
Ontem, Márcio Moraes, o “Perema”, Marluti Fialho e Ricardo Fialho organizaram uma lancha que nos levou para uma escola municipal na comunidade ribeirinha de São Miguel.
É uma escola modelo, no que diz respeito à infraestrutura. A escola é realmente um charme. À beira do rio, salas de aulas amplas, as palafitas novinhas, o que infelizmente não é a padrão das escolas da zona rural.
Um dos motivos para o IDH de Melgaço ser o pior do Brasil é a educação. Mais de 50% da população é analfabeta.
A escola vai até o ensino fundamental. Ensino médio só é oferecido mesmo na sede do município.
Conversamos com José da Silva, um jovem que é desta comunidade, e está no terceiro ano do ensino médio. Seu cotidiano é desgastante.
Sai todos os dias de barco às 9 da manhã, e chega às 11 à sede da cidade. Passa a tarde estudando. Não almoça. Só come o lanche na escola: bolacha e suco.
Às 18 horas pega o barco de volta, e às 20 horas está em casa. “No barco não dá para estudar, o barulho do motor é muito alto”, conta.
Muitos jovens acabam desistindo dessa rotina, e abandonam a escola.
Segundo o diretor da escola de São Miguel, Rui Luís Souza, a evasão todos os anos é altíssima, principalmente pelas distâncias que as populações ribeirinhas enfrentam diariamente para estudar. Além disso, as crianças e jovens ajudam as famílias no trabalho de roça, o que baixa a frequência.
Ricardo Fialho, do Movimento Marajó Forte, nos trouxe dados alarmantes: são 487 mil habitantes no Marajó. Destes, apenas 16 mil estão matriculados no ensino médio. Dos 16 municípios, apenas três possuem cursos universitários, e o número de vagas total para o ensino superior é 360.
É uma das lutas do movimento trazer mais cursos superiores para a região, o que me parece uma necessidade urgente. Profissionais qualificados, como enfermeiros e professores, vêm em geral de fora.
Agora é noite e dei uma volta pela cidade. Bares e igrejas movimentam a cidade, há música por toda parte.