A morte absurda do funkeiro foi tragicamente coerente com o que ele cantava

Atualizado em 8 de julho de 2013 às 8:21

MC Daleste, artista do pancadão paulista, foi atingido por um tiro no abdômen em pleno palco.

MC Daleste
MC Daleste

 

MC Daleste, nome artístico do funkeiro Daniel Pedreira Sena Pellegrine, foi assassinado em pleno palco no sábado, quando se apresentava para cerca de mil pessoas numa festa junina em Campinas. Tinha apenas 20 anos.

A cena do crime, gravada em vídeo, é chocante. Ele está cantando quando se ouve um disparo. Imediatamente, se debruça e cai. Tenta se levantar e é amparado. O som é interrompido.

É desde já a morte mais impressionante do showbis.

Daleste foi atingido no abdomen. Chegou a ser levado para um pronto-socorro, mas não resistiu e morreu. Ninguém ainda foi preso. O show não tinha policiamento ou segurança.

Daleste era um seguidor do chamado ‘pancadão paulista’ e do ‘funk ostentação’, que fala de mulheres, roupas, sexo, dinheiro, droga, polícia e violência.

As letras de Daleste retratavam sua realidade. Coisas como:

SP é assim, SP é assim

nois corre pelo certo

E o certo é exaltado

Sangue de bandido, profissão perigo

E o errado é fuzilado

Ou:

Matar os policia é a nossa meta

Fala pra nois quem é o poder

Mente criminosa coração bandido

Sou fruto de guerras e rebelioes

Começei menor ja no 157 hoje meu

Vicio e roubar profissão perigo

Especialista formado na faculdade criminosa

Armamento pesado ataque sovietico e que esse

É o bonde do mk porque quem manda aqui

É o 1 p e 2 c fala pra nois que e o poder

 

Ou ainda:

Aula de criminologia

Primeiro engatilha

Depois você mira

Se tiver no alvo

Você extermina

Quando meu chefe deixar

Vou colecionar cabeça de polícia

Nosso armamento é pesado

Daleste não merecia esse fim absurdo, claro. Ele escrevia sobre esses temas pela simples razão de que era o que estava ali. Não existe razão para esperar que cantasse sobre um passeio em Ipanema com uma menina para tomar um frozen yogurt.

Funkeiros como Daleste fazem sucesso por causa da crueza dessas rimas. O paralelo com rappers americanos que morreram assassinados, como Tupac Shakur e Notorious B.I.G., é evidente. Um admirador seu postou uma foto com um fuzil, jurando vingança. A vida imita a arte.

Daleste cantava sobre o que via e vivia. Sua morte foi horrenda, uma tragédia que precisa ser esclarecida — mas, lamentavelmente, coerente com tudo sobre o que ele falou em suas canções.

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